Equipe HFACTORS: na trilha da interdisciplinaridade

Equipe HFACTORS: na trilha da interdisciplinaridade

Relativamente recentes, as pesquisas que reúnem mais de uma área do conhecimento, visando resultados conjuntos e não apenas lineares e disciplinares, tendem a ser grandes desafios. O maior deles é unificar as visões de mundo em busca de um resultado novo. Integrantes do núcleo HFACTORS, sediado na PUCRS, que tem em suas bases mais de 40 profissionais com diferentes formações e campos de atuação, os professores Beatriz Gershenson e Paulo Selig entendem que a concretização da interdisciplinaridade ocorre por meio de processo, envolvendo aprendizado para o time participante, com potencial de alcançar dados transformadores sobre o tema estudado.

“Normalmente, passamos por fases, começando por um período de pouca confiança, por falta de conhecimento das particularidades de cada disciplina”, afirma Gershenson, que é doutora em Serviço Social e professora titular da Escola de Humanidades da PUCRS. Ela diz que a transformação do grupo é subjetiva e ainda inclui incertezas sobre as especificidades de cada área até chegarem os questionamentos. “As interrogações permitem o reconhecimento das limitações compartilhadas e também independentes de cada área, pois elas são impostas pela própria realidade”, explica.

Aprendizados e frutos

Doutor em Engenharia de Produção, Selig, que tem em sua experiência a fundação de um programa de pós-graduação com propósito interdisciplinar, acrescenta que a busca pela integração nunca acaba e, ao longo do caminho, vão surgindo os aprendizados e novos frutos. Como exemplo, ela cita a gênese do núcleo HFACTORS.

“No início, houve dificuldade de linguagem e de reconhecer um ao outro em sua cientificidade”, afirmou. No entanto, avaliou, o grupo tem feito esforços de colaboração conjunta, testando metodologias de integração, que deveriam, inclusive, ser documentadas. “Experiências de projetos interdisciplinares são poucas pessoas que têm. É algo razoavelmente novo. Isso tem que ser valorizado”, ressaltou.

Sobre isso, Gershenson observa que os pesquisadores desse e de outros projetos interdisciplinares têm uma oportunidade de fazer o que se sabe no campo da ciência para que ela seja útil e se converta em avanços. Porém, para que isso aconteça deve haver renúncia de autoridade ou hierarquia entre as ciências. “É preciso ter humildade para chegar ao ponto de reconhecer o que não se sabe e olhar para a realidade em conjunto da maneira como ela se impõe.”

Caso do núcleo de pesquisa

Ao longo do processo de trabalho do HFACTORS, que iniciou formalmente em 2017, se reconheceu também a necessidade de inclusão de outras disciplinas, como Psicologia e Comunicação. Selig, que atualmente é professor vinculado ao programa de Pós-graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), explicou que a escolha das áreas que devem integrar uma pesquisa com viés interdisciplinar tem relação com o tema trabalhado.

No caso do HFACTORS, tudo começou com um objetivo de se estudar e melhorar a segurança de um segmento da indústria. Nesse sentido, os estudos de fatores humanos foram aderentes a esse propósito. Vieram também profissionais de Engenharia de Resiliência, de Conhecimento, de Sociologia, de Serviço Social e de Biologia para reconhecer o sistema pesquisado e encontrar soluções.

Conhecimentos complementares

Reforçando a máxima de que os conhecimentos são complementares, Gershenson ressalta: “Costumamos trabalhar com a ideia de mediações para alcançar a realidade, que é sempre mais complexa do que parece. E, para isso, não haverá como uma área de conhecimento dar conta sozinha. A realidade não pertence a caixinhas.” Esse processo é ainda mais difícil porque, na constituição das ciências, os objetos de estudos e ferramentas foram compartimentados. O trabalho agora é continuar na contramão da lógica competitiva estimulada em várias organizações para juntar esforços.

O grupo vem dando passos para a interdisciplinaridade e também se aproximando de um conceito de pesquisa mais novo: a transdisciplinaridade. “Está na linha de resultados com coprodução, com objeto comum e múltiplos atores, mas com uma finalidade maior, que transborda a pesquisa”, observou Selig. No caso do HFACTORS, a participação de representantes da própria indústria na produção e aplicação dos resultados é um ganho. “Não garantimos que terá um resultado melhor, mas a abordagem diferente pode trazer resultados inovadores.”

0 respostas

Deixe uma resposta

Want to join the discussion?
Feel free to contribute!

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *