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HFACTORS retoma atividades presenciais com laboratórios de Fatores Humanos

A difusão dos conceitos de Fatores Humanos através de laboratórios entrou em uma nova fase. Se antes eles ocorriam somente de modo virtual, agora começaram os encontros presenciais. Vitória (ES), Rio de Janeiro (RJ) e Macaé (RJ) foram as primeiras cidades a receber o formato, com a participação de mais de 80 líderes e gerentes do setor de óleo e gás. “Após mais de dois anos mantendo atividades online, devido à pandemia da Covid-19, retomamos oficinas presenciais”, diz o coordenador do núcleo de pesquisa HFACTORS, Eduardo Giugliani.

Segundo o professor, os encontros ratificam os processos colaborativos e de compartilhamento. “O contato direto, o tempo de intervalos, as conversas casuais entre os participantes ainda se colocam insuperáveis quando o foco também está na troca de vivências e experiências”, ressalta. Mesmo assim, atividades online permanecem, inclusive as de laboratórios de Fatores Humanos. “O HFACTORS manteve-se resiliente em 2020 e 2021 e volta adaptado aos novos tempos, em processos que se mantêm virtuais, presenciais ou mesmo híbridos, procurando tirar o melhor de cada perspectiva de aprendizagem”, explica.

“O envolvimento das pessoas é maior e os diálogos, muito mais proveitosos”, observa um dos organizadores Victor Nazareth. Os encontros têm proporcionado, além de conhecimento sobre o tema, debates mais próximos sem a mediação do computador, o que possibilita mais concentração em torno das atividades e interação social entre os participantes que atuam no mesmo setor, mas trazem diferentes experiências a serem compartilhadas. Nos espaços de coprodução, Nazareth também identifica demandas dos líderes. “Eles vêm com ansiedade por resultados e aplicação em campo, mas o laboratório é um primeiro passo de uma jornada”, descreve. 

A pós-doutoranda do HFACTORS Caroline Capaverde, que também trabalha na organização dos laboratórios, entende que o fazer não é dissociado do pensar. Por isso, durante os encontros, o que se procura é ressignificar a prática. “O espaço proporciona problematização a partir dos conceitos de Fatores Humanos. É um convite para um percurso de atribuição de sentidos às diferentes relações que ocorrem no âmbito sistêmico, em uma rede envolvendo pessoas, artefatos e tarefas”, explica.

A proposta é de trazer fundamentos, de maneira estruturada, sobre Fatores Humanos. De forma estratégica, os laboratórios são oferecidos para pessoas que podem atuar como multiplicadoras do conhecimento e, assim, começar a experimentar os ensinamentos na rotina de trabalho, a partir de uma mudança de paradigma. 

Nazareth argumenta que é preciso desfazer a ideia de resolver problemas complexos com soluções simples. Para cada situação, é necessária uma maneira específica de lidar, informa. Nos próprios laboratórios, essa é a premissa. Os resultados são sempre estudados e reavaliadas para que haja adaptação das técnicas e otimização de aprendizado e participação.

Cerca de 400 pessoas fizeram parte dos laboratórios desde que eles iniciaram de forma online em 2021. A maioria delas tinha cargo de gerência, sendo parte gerentes de plataforma, o que mostra uma ampliação da jornada de Fatores Humanos nas áreas operacionais. O objetivo é manter os dois tipos de versão até o final do ano. 

Idealizados e colocados em prática pelo engenheiro de petróleo José Carlos Bruno e pelo professor Eder Henriqson, em parceria com pesquisadores do HFACTORS e representantes do segmento, os encontros provocam a reflexão sobre as atuais práticas de trabalho e a discussão de outras possibilidades de lidar com a rotina, com os procedimentos e com as tomadas de decisão.

Abordagem sistêmica

Os facilitadores contrastam a visão tradicional em relação à segurança com uma visão que considera o contexto para entender os eventos. Ainda hoje é muito comum a adoção de práticas punitivas e a busca por causas isoladas para os problemas. Porém, esse tipo de medida não tem gerado resultados esperados para esse campo.

Por isso, a perspectiva trazida nos laboratórios procura sensibilizar os participantes a observar o desempenho humano nos sistemas complexos como algo condicionado pelo modo como o trabalho está organizado e pela forma que as tecnologias foram projetadas. “Fatores humanos basicamente procura interpretar e entender a relação do humano com tudo aquilo que o cerca”, explica Bruno. Ele acrescenta a necessidade de entender as condições construídas dentro de um sistema que podem levar a um erro e esse erro desencadear um conjunto de fatores responsáveis por uma catástrofe.

ENGENHARIA DO CONHECIMENTO: Pesquisadores identificam conhecimentos para análise de potencial de resiliência

Considerando as diversas aplicações da Engenharia e Gestão do Conhecimento, o uso dessa área de pesquisa com uma perspectiva de Fatores Humanos e Resiliência tem o objetivo de compreender qual o conhecimento habilita as equipes a agirem frente às situações inesperadas. No núcleo HFACTORS, que estuda sistemas complexos, esse entendimento orienta estratégias de preservação do conhecimento e de promoção da aprendizagem organizacional, por exemplo.

“Todo o conhecimento que vai fazer com que a equipe consiga entender que, eventualmente, as circunstâncias mudaram, os motivos da mudança e que habilitem as pessoas a projetar o estado futuro do sistema para que seja possível antecipar e desarmar eventos de segurança”, descreve o professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Denilson Sell, que é doutor em Engenharia de Produção e atua no HFACTORS. Na mesma linha, aqueles conhecimentos que habilitem a implementação de respostas frente aos eventos inesperados são determinantes para as respostas resilientes.

“Também nos é bastante importante entender as possíveis fontes e razões de perda e de desperdício de conhecimento na organização”, ressaltou. Segundo o professor, muitas vezes, lições provenientes de acidentes, por exemplo, são perdidas e um evento semelhante pode voltar a acontecer.

Em uma pesquisa, a disciplina costuma capturar pistas do cotidiano do trabalho e extrair conhecimento. “Quando falamos em pistas, estamos tentando entender quais são esses fatores que condicionam o trabalho resiliente e seguro”, ressalta.  Identificadas essas informações, é possível estabelecer indicadores de tendências. “A gente trabalha com os elementos ligados a fatores individuais, organizacionais e ao desenho do trabalho”, diz.

A partir daí, é possível analisar os fatores positivos, negativos e aqueles que possam conferir segurança às operações ou comprometer a segurança no futuro, possibilitando um olhar pró-ativo sobre o sistema. A gestão dos pontos positivos que garantam atividades mais seguras e também a antecipação de potenciais riscos, considerando diferentes fontes de dados, incluindo as percepções dos trabalhadores e da liderança, podem subsidiar intervenções assertivas para a promoção do potencial de resiliência e da segurança.

Essa Engenharia empresta ferramentas e métodos para extrair conhecimentos sobre dados diversos, como relatórios de acidentes e de investigação de acidentes, por exemplo. “Trabalhamos com técnicas de inteligência artificial para poder minerar documentos e relatórios e extrair aqueles elementos latentes que contribuíram, de certa forma, para uma ocorrência.”

Com a visão da engenharia e gestão do conhecimento, os pesquisadores buscam ainda entender de que forma o fluxo da informação e do conhecimento ocorre, ajudando as equipes a terem melhor consciência do que vem acontecendo e as suas falhas, que podem causar algum tipo de variabilidade e pode afetar o desempenho da operação e produzir elementos de risco.

Engenharia e Gestão do Conhecimento são duas áreas complementares que, no núcleo HFACTORS, têm o objetivo de qualificar o trabalho de organizações por meio de ferramentas e conteúdos de diferentes disciplinas.

Assista ao vídeo do professor Sell falando sobre o assunto no nosso canal no YouTube.