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A (nova) doença silenciosa: como a síndrome de Burnout potencializa mudanças na estrutura das organizações

O estresse e a exaustão física dos trabalhadores vêm sendo tema de pesquisa com cada vez mais frequência. Trata-se de um cenário delicado para as organizações, pois gera consequências como baixa produtividade e rendimento. Dentre o distúrbio que indica tais consequências físicas e psicológicas, enquadra-se a síndrome de Burnout.

Reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no primeiro dia de 2022, como doença ocupacional, a síndrome pode ser entendida como um adoecimento, com relação direta com as demandas e cargas de trabalho desempenhadas. Segundo atribui a psicóloga e doutoranda em desenvolvimento de carreira Daniela Boucinha, o lado emocional, as preocupações, os anseios passam a ser uma grande preocupação para trabalhadores e para as organizações. Ela salienta que as empresas precisam olhar para o aspecto humano e para as formas e condições que os profissionais desempenham determinada função. Com a evolução tecnológica e a impulsão da Inteligência Artificial (IA), por exemplo, o mundo do trabalho está lidando com uma série de mudanças e demandando ainda mais dos colaboradores. “À medida que as transformações vêm acontecendo, evidencia-se a imprevisibilidade e a incerteza”; define Boucinha.

Pauta da saúde mental

De acordo com Boucinha, o trabalho é entendido como uma demanda a ser exercida, cujo desempenho despende de um esforço, um gasto de energia, com o uso de valências físicas, cognitivas, emocionais, e com um equilíbrio de demandas e recursos ligados ao trabalho. E, da mesma forma, deve-se haver uma reposição dessa energia, com frutos positivos àquele indivíduo que está executando determinada tarefa. Assim, o apoio ao profissional e um suporte técnico, ligado a aspectos psicológicos, possibilita um rendimento e uma maior produtividade. “É muito importante que as organizações estejam atentas à pauta de saúde mental e, principalmente, possibilitem mais recursos para que os seus trabalhadores possam lidar e enfrentar melhor as demandas relacionadas ao trabalho”, declara a psicóloga. Ela complementa que o apoio e a proximidade das lideranças compactuam a um resultado mais voltado à saúde do que o adoecimento no trabalho.

Por se tratar de um distúrbio ligado à psicologia e às emoções, a síndrome de Burnout acaba por ser negligenciada e vista como tabu por trabalhadores e, muitas vezes, pelas organizações. As lideranças têm um papel fundamental nesse cenário. Elas atuam como intermediadoras à medida que, “ao conhecer melhor os integrantes que compõem a equipe, podem ter conversas mais próximas, constantes e, certamente, necessárias com o colaborador”, destaca Boucinha. Os gestores também podem identificar aspectos internos e, até mesmo, externos ao trabalho. Para a doutoranda, os impactos estão relacionados a diferentes esferas. Todas as questões emocionais, psicológicas, como cansaço, falta de energia e emoções alteradas têm confluência ao momento no trabalho.

Sintomas e estratégias

A desatenção e o esquecimento, por exemplo, são sintomas que nem sempre as lideranças percebem como um possível quadro de Burnout. Na prática, o princípio da síndrome, como remete a pesquisadora, se dá em quatro níveis: uma exaustão e um extremo cansaço; declínio da autorregulação emocional – fator associado ao descontrole de emoções (pessoas irritadas, emotivas); declínio da autorregulação cognitiva com os sintomas de esquecimento e desatenção – como exemplo agendar mais de um compromisso para o mesmo horário; e por fim, um distanciamento mental – quadro mais severo, com a aversão ao trabalho e a perturbação ao quadro de saúde em paralelo ao trabalho e, por consequência, há o afastamento dos trabalhadores.

Para Boucinha, as organizações precisam conhecer mais sobre esse tema e saber como o Burnout se desenvolve. Ela acredita que, para haver uma consonância entre líderes e demais membros da equipe, é importante mais conversas relacionadas à carreira e à saúde. Outra necessidade é fornecimento de recursos para que os trabalhadores possam lidar com as demandas e assim o quadro não evoluiria tão facilmente para uma questão mais grave de afastamento, por exemplo.

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