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ENGENHARIA DE RESILIÊNCIA: Gerência de incertezas para garantir sistemas mais seguros

Por mais que as operações em sistemas sociotécnicos complexos sejam controladas, existem residuais de incertezas que podem resultar em falhas e até em acidentes. A Engenharia de Resiliência, que é uma disciplina relativamente nova, se ocupa dos estudos sobre a capacidade de enfrentamento dos riscos imprevistos. Segundo o decano da Escola de Negócios e coordenador científico do núcleo HFACTORS, Éder Henriqson, a resiliência é tratada como a capacidade dos sistemas sociotécnicos e organizacionais de desarmar, de recuperar e de adaptar frente a situações desafiadoras. Além disso, aprender enquanto sustenta uma transformação em situações desafiantes e gerir a incerteza são outras características de uma operação ou de um conjunto de operações resilientes.

“A Engenharia de Resiliência estuda basicamente como projetar, gerenciar e avaliar os potenciais de resiliência em sistemas sociotécnicos complexos, que são especificamente organizações que dependem de alta confiabilidade nas suas operações, que lidam com a gestão do risco enquanto um componente crítico”, explica. Entre esses setores, estão indústrias como a de aviação, de óleo e gás e de saúde.

Desde 2005, os estudos dessa área têm crescido e dentre as aplicações estão o uso de tecnologia para dar suporte ao enfrentamento, prevenção, desarme e recuperação durante situações críticas e qualquer distúrbio que as operações de um sistema sofram. Isso tem o objetivo de garantir a continuidade eficiente e segura das atividades. As pesquisas têm focado também na análise de infraestruturas críticas e suporte à transformação digital das organizações.

Tolerância ao erro

A perspectiva da Engenharia de Resiliência também é usada para criar tecnologias tolerantes aos erros e com condições de superar as falhas. Ao mesmo tempo, é possível desenhar operações em que os times possam antecipar e contornar o risco. “Procuramos desenvolver repertórios e capacidades para as equipes superarem os desafios”, observa Henriqson. A ideia é identificar capacidades, habilidades e competências e fazer protocolos de treinamento, de desenvolvimento, de educação e de formação para otimizar o trabalho.

Como forte campo interdisciplinar, a Engenharia de Resiliência está apoiada em várias disciplinas como a Sociologia, a Gestão do Conhecimento, a Administração e a Psicologia. “Fundamentalmente, precisamos de diferentes perspectivas teóricas que nos ajudem a entender a complexidade dessas interações sociotécnicas”, afirma o professor. 

Colaboração entre áreas

As outras áreas podem ainda emprestar modelos e métodos adequados para a compreensão da dimensão técnica, da social e dos processos interativos. Dentro do núcleo HFACTORS, a Engenharia de Resiliência é uma das áreas de pesquisa que atua com a colaboração de outras para promover segurança e eficiência operacional, incorporando e pesquisando novas abordagens no estudo dos Fatores Humanos.

Para assistir ao vídeo completo do professor falando sobre Engenharia de Resiliência, acesso o nosso canal no YouTube.


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Artigo mostra processo decisório descentralizado na aviação

Um estudo realizado pelos pesquisadores do HFACTORS Eder Henriqson e Lucas Bertelli Fogaça mostra que as decisões tomadas nas operações de voo não são centralizadas e, sim, distribuídas em várias áreas. Portanto, a resiliência do sistema depende da combinação dos repertórios dos diferentes integrantes e não só de uma figura, como o operador de voo.

O artigo, que acaba de ser publicado no Journal of Cognitive Engineering and Decision Making e conta com Guido Carim Jr e Felipe Lando, apresenta dados sobre o processo decisório na área da aviação. Segundo Fogaça, as companhias aéreas operam em um ambiente altamente variável que interfere na malha de voos, sendo o Centro de Controle de Operações (CCO) a principal estrutura responsável por garantir operações tranquilas e rentáveis.

O pesquisador explica que, até então, os estudos sugeriam que as decisões eram centralizadas no coordenador de voo, um figura central em um CCO, porém, o trabalho do qual participa aponta que, além desse personagem, outros fazem a diferença:


1) o processo decisório é distribuído e descentralizado em várias áreas e não concentrado na figura do Coordenador de Voo;
2) especialistas de cada área estão constantemente e ativamente procurando sinais de interrupção enquanto monitoram a operação normal e reequilibram os recursos;
3) especialistas da área contam com um repertório de estratégias para implantar soluções inovadoras em cenários dinâmicos;
4) a resiliência do sistema frente às interrupções emerge da combinação dos repertórios dos diferentes integrantes (decisores) do CCO.

Desenvolvimento em Fatores Humanos

Reunindo os temas que emergem das pesquisas em sistemas complexos, a área de Desenvolvimento em Fatores Humanos tem o objetivo de estudar e implementar mudanças que contribuam para a qualificação do trabalho das organizações. Ao priorizar uma visão interdisciplinar, todas as áreas do conhecimento que compõem o núcleo HFACTORS participam das análises e da criação de soluções para o fortalecimento da cultura de segurança.

O trabalho ocorre de maneira integrada entre pesquisadores e representantes de organizações tanto para identificar o que precisa ser desenvolvido, como para desenhar modelos de intervenção. Atualmente, os esforços estão dedicados às áreas de Habilidades Não-técnicas, Resiliência, Fatores Humanos e Liderança.

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Professores do HFACTORS lançam livro sobre resiliência na Era Digital

Uso de tecnologias para melhorar a segurança no futuro é um dos temas do livro Resilience in a Digital Age: Global Challenges in Organisations and Society. A publicação da editora Springer reúne várias abordagens sobre o assunto trazidas por especialistas mundiais em resiliência. Como organizadores, a obra tem dois pesquisadores do HFACTORS, os professores Éder Henriqson e Paulo Maurício Selig, além da fundadora e presidente da Associação do Capital Intelectual, Florinda Matos.

A resiliência é tratada pelos três como a chave para o futuro. Já as pessoas, segundo eles, estão na base das transformações. O livro fornece ainda exemplos e estudos de caso sobre resiliência e novos modelos de negócios, além de destacar a importância de construir organizações resilientes para se adaptarem a eventos ou crises inesperadas.

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Oficinas interdisciplinares são fonte de aprendizagem e de inovação

A realização de um projeto de pesquisa e desenvolvimento (P&D) envolvendo múltiplas disciplinas e áreas de conhecimento é algo desafiador e, ao mesmo tempo, apresenta várias possibilidades de aprendizagem e inovação. A coprodução de conhecimentos entre as várias equipes e áreas de conhecimento, por exemplo, é algo que pode ser promovida e facilitada por meio da utilização de diversas ferramentas e espaços colaborativos.

Dependendo da fase de execução de um projeto de P&D, esses espaços podem ser mecanismos para o compartilhamento de informações e conhecimentos entre disciplinas, discussão de problemas e construção de soluções a partir da conexão ou integração de abordagens teóricas, métodos e resultados de pesquisa.

HFACTORS


Desde a sua formação, o núcleo HFACTORS tem realizado várias atividades com essa proposta. Entre as ferramentas e espaços implementados para trabalhar em conjunto e reunir diferentes equipes, estão as Oficinas Interdisciplinares. Elas podem ter variados formatos e sua dinâmica, geralmente, é organizada segundo objetivos preestabelecidos pela coordenação.

Em agosto de 2021, ocorreu a Oficina Interdisciplinar que contou com a participação de quase 40 pesquisadores de diferentes equipes integrantes do HFACTORS. De forma online, os pesquisadores buscaram identificar pontos de integração dos resultados da pesquisa exploratória realizada entre 2020 e 2021 na indústria de óleo e gás no Brasil. Foram discutidos potenciais conexões de conhecimentos e identificaram formas de relacioná-los, visando possíveis aplicações em sistemas sociotécnicos complexos.

A atividade foi organizada em torno das seguintes temáticas: “fundamentos e princípios de fatores humanos”, “desenvolvimento de lideranças” e “fatores contribuintes para respostas resilientes”. A dinâmica da oficina aconteceu em três momentos. Inicialmente, cada temática foi apresentada por um pesquisador (bolsista de doutorado ou pós-doutorado) destacando os principais aspectos da análise realizada previamente por um grupo de trabalho interdisciplinar. Em um segundo momento, houve debates em pequenos grupos (uma sala para cada temática), onde os participantes tiveram oportunidade de manifestar sua opinião e agregar outras análises, de modo a gerar insights para as próximas agendas da pesquisa. Ao final, um representante de cada sala fez um relato para todos os participantes abrindo a oportunidade para comentários e sugestões.

Avaliação


Segundo o coordenador do HFACTORS, professor Eduardo Giugliani, a coprodução durante a oficina interdisciplinar consagra um momento importante de interdisciplinaridade. A avaliação, realizada por meio de um questionário respondido pelos participantes, apontou que os times conseguiram cumprir seus objetivos, mas a ampliação do tempo de discussão, por exemplo, foi apontada como uma demanda dos participantes e sugestão para próximas oficinas.

Segundo a doutora em Engenharia e Gestão de Conhecimento Jane Lucia S. Santos, que integra a coordenação do núcleo de pesquisa, a interdisciplinaridade é um processo de aprendizagem, que acontece de forma cíclica. “Devemos continuamente investir mais tempo, esforço e ferramentas, de modo que se torne orgânico e imbricado naturalmente nas nossas atividades”, disse. Neste sentido, o HFACTORS continua implementando e criando diversos espaços que promovam e facilitem a coprodução de conhecimentos entre equipes, disciplinas, áreas de pesquisa e, até mesmo, organizações.

Sistemas resilientes devem desarmar, recuperar e adaptar diante das falhas

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Usado, normalmente, para indicar adaptabilidade ou capacidade de superar as dificuldades, o termo resiliência tem sido cada vez mais usado nos estudos sobre segurança em organizações. Algumas áreas do conhecimento têm se dedicado a entender como as pessoas e os sistemas organizacionais reagem à pressão.

Analisando os tipos de resposta para problemas em sistemas sociotécnicos complexos, o decano da Escola de Negócios da PUCRS e pesquisador do núcleo HFACTORS, Éder Henriqson, explica que sempre há incerteza e risco. “É necessário compreender como o projeto desses sistemas deve garantir capacidades de desempenhar com segurança”, ressalta.

Segundo ele, a resiliência é um termo usado em muitas disciplinas, tais como a Ecologia, a Psicologia e a Física. No entanto, observando uma abordagem em Fatores Humanos, os estudos contemplam um olhar sistêmico a partir do desempenho individual e organizacional nos contextos de trabalho.

Tipos de resposta diante dos riscos

Frente uma perturbação – condição de emergência – um sistema pode manifestar, pelo menos, três tipos de resposta. Entre elas, está o desarme (evitar um problema que poderia acontecer ou desarmar efeitos cascatas de um problema que ocorreu), a recuperação (retornar ao estado original do funcionamento) ou a adaptação (mudar sua condição de funcionamento e operação, reconfigurando recursos e competências). 

Tais respostas são exemplos de manifestações ou comportamentos resilientes do sistema, em que os estudos buscam compreender como as operações são mantidas e a aprendizagem ao fazer isso. Henriqson lembra que as habilidades não-técnicas, como a tomada de decisão e a liderança são recursos individuais para o enfrentamento de erros e possíveis ameaças.

HFACTORS e Resiliência

O HFACTORS (Human Factors and Resilience Research) é um grupo de pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento, que tem se dedicado a estudar, a partir de projetos de P & D, maneiras de criar ambientes de trabalho mais resilientes, e dessa forma, criar uma cultura de segurança fortificada, principalmente na indústria de óleo e gás.