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SERVIÇO SOCIAL: Contradições, fatores de risco e de proteção em estudos sobre trabalho

Inês Amaro é coordenadora do grupo de Serviço Social do HFACTORS

Como profissão, o Serviço Social tem o objetivo de pesquisar e intervir na realidade social e suas contradições. A disciplina se ocupa, no campo do trabalho, do sujeito e suas relações, dos impactos e dos produtos, muitas vezes expressos em desigualdades.

“Nosso objeto de intervenção e de estudo são as expressões da questão social e, historicamente, temos uma trajetória relacionada ao campo do trabalho e, neste caso da segurança, no e do trabalho”, observa a professora de Serviço Social da PUCRS e integrante do núcleo HFACTORS Inês Amaro da Silva. 

Desde a década de 1980, existem produções científicas sobre a atuação do Serviço Social na área organizacional, investigando, entre várias temáticas, a questão da saúde e da segurança no trabalho em instituições públicas e privadas. “Temos muitas pesquisas nesse campo e a intervenção com a presença de assistentes sociais dentro de empresas, atuando não só na questão da saúde e na segurança ocupacional, mas também na qualidade de vida no trabalho, cidadania e responsabilidade social empresarial”, ressalta a pesquisadora que é doutora em Educação. 

Fatores Humanos

Mais recentemente, essa atenção acompanhou a evolução no campo da segurança operacional para a perspectiva de Fatores Humanos, em que a dimensão social e a relacional do trabalho passaram a ser incorporadas à maneira de olhar para os mais variados temas da complexidade organizacional e dos fatores relacionados à proteção e riscos. “Na relação entre homem, trabalho e seus artefatos gerados, nós vamos atuar no que chamamos de dimensão social do trabalho e as relações com o sujeito no contexto laboral, familiar e social mais amplo”, descreve a professora. 

Essa área de pesquisa procura compreender os impactos das relações que se constroem no ambiente e também quais são as condições em que as atividades ocorrem. A intervenção é pensada para criar condições mais favoráveis para o desenvolvimento humano e social e de relações democráticas que envolvam participação, autonomia e acesso a direitos. “Tem a ver com os nossos princípios éticos e a nossa metodologia de intervenção”, explica. 

Em um projeto de pesquisa de Fatores Humanos, combinado com outras disciplinas, como ocorre no núcleo HFACTORS, o Serviço Social tem o papel de desvelar as condições e os modos de vida no trabalho, a partir de algumas categorias, incluindo, por exemplo, comunicação, participação, gestão democrática, entre outras. Também se ocupa dos fatores de risco e de proteção presentes nas organizações. 

Confira o vídeo da professora Inês Amaro da Silva falando sobre o assunto.


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Cultura Justa: responsabilidade compartilhada para garantir aprendizado nas organizações

Crédito: Unsplash

Os processos de gestão, de administração e também as condutas esperadas dos membros de uma determinada organização fazem parte de uma cultura local, a qual rege boa parte das dinâmicas nos ambientes de trabalho. Quando as práticas são pautadas por um sistema de responsabilidade compartilhada entre os trabalhadores, os reguladores e a gestão, procurando gerar aprendizado, confiança e cooperação, isso é chamado de cultura justa.

As pesquisadoras da equipe do Serviço Social do núcleo HFACTORS Beatriz Gersheson, Kathiana Arend e Inês Amaro explicam que esse conceito tem relação com a maneira que os sistemas respondem aos comportamentos de seus colaboradores. Se algo “dá errado”, por exemplo, o objetivo é aprender por meio da participação e da compreensão das atividades e responsabilidades.

A cultura justa engloba uma ampla gama de situações em que seus princípios podem ser considerados e aplicados para a melhoria de todos os processos organizacionais, segundo as pesquisadoras. Elas entendem que, para se chegar a um modelo de cultura justa, é necessária a participação dos envolvidos na organização. Uma das ações é a transformação da comunicação para evitar assimetrias de poder e, assim, reduzir também práticas retributivas, com objetivo de punição.

As práticas devem ser orientadas por processos democráticos e de responsabilização, ainda de acordo com a equipe do Serviço Social. Implica que haja, necessariamente, uma mudança de olhar e das perguntas que movem os processos.

Segurança organizacional

À medida em que a cultura de segurança das organizações incorpora esta racionalidade, o foco passa a ser nas necessidades e na obrigação em seguir uma abordagem colaborativa entre as pessoas direta e indiretamente afetadas por um incidente que causou ou possa causar dano. Para as pesquisadoras, esta é a base da mudança.  

A aposta em uma cultura justa restaurativa – que visa a reparação dos danos e responsabilização dos atos – oferece a possibilidade de ampliação da segurança nas organizações, fortalecendo a atuação dos trabalhadores. Eles podem participar ativamente do monitoramento do local de trabalho e estar envolvidos nos esforços para a melhoria da segurança organizacional.

Mobiliza ainda uma infraestrutura de aprendizagem contínua para prevenir a exclusão nas relações de trabalho, orientando-se por processos justos e inclusivos, intimamente associados à qualidade de interação e comunicação nas relações de trabalho. Assim, são cultivados espaços em que os trabalhadores possam ser ouvidos e tratados com respeito

O processo para consolidação da cultura justa ainda deve contar com aprendizagem coletiva e colaborativa, rompendo com os processos restritivos à culpabilização e à penalização. Da mesma forma, as assistentes sociais observam importantes a educação corporativa com o objetivo de desenvolver a liderança e a comunicação em nível interpessoal e intergrupal. Tudo isso privilegia a construção de competências comportamentais como escuta ativa, empatia, confiança e trabalho em equipe.