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Pesquisador do HFACTORS apresenta pesquisa sobre segurança operacional na Suécia

Mesmo com um elevado número de regras e procedimentos fiscalizados por agências reguladoras, as organizações com alto nível de complexidade não estão livres de sofrer catástrofes. O coordenador do curso de Ciências Aeronáuticas da PUCRS, Lucas Bertelli Fogaça, que é integrante do núcleo de pesquisa HFACTORS, identificou, em sua tese de doutorado apresentada em 2021, controvérsias nas relações entre trabalhadores e os artefatos do ambiente laboral. O estudo foi apresentado na segunda semana de junho na Universidade de Lund, na Suécia. 

“Da mesma forma que procedimentos são utilizados para estruturar o trabalho, a variabilidade inerente ao campo implica em adaptações constantes para que o trabalho normal possa ser realizado”, explica, lembrando que esse é um dos exemplos de dualidades observadas na indústria de óleo e gás, utilizada como campo para a pesquisa, que também trouxe exemplos de outros setores, como o aéreo. O trabalho desenvolvido por Fogaça faz parte do projeto Integração de Fatores Humanos e Resiliência para o Fortalecimento da Cultura de Segurança na Indústria de Óleo e Gás, conduzido pelo núcleo HFACTORS, que é vinculado à Escola Politécnica em parceria com a Escola de Negócios da PUCRS.  

Fogaça dá exemplos de acidentes ocorridos logo após comemoração de elevados níveis de conformidade relacionados à prevenção de riscos por auditorias externas, como o desastre em Macondo no Golfo do México. A explosão de uma sonda de perfuração ocorreu no dia seguinte à celebração de um relatório com excelentes resultados de segurança. Foram 11 mortes, além de derramamento de óleo, que representou um enorme desastre ambiental. “Os eventos da barragem de Mariana e da Air France 447 também ocorreram em cenários parecidos, mesmo com elevadíssimos níveis de compliance. Isso mostra, em retrospecto, que a segurança e conformidade não andam necessariamente de mãos dadas.” 

Utilizando uma abordagem sociológica, ele observou, em diálogos no campo, em circulares, manuais e procedimentos, como as dinâmicas operacionais e de gestão ocorrem. “A tese se propunha a fazer a captura de negociações e reconciliação de diferentes metas que ocorrem cotidianamente, iluminando como os procedimentos, a regulação e os treinamentos, por exemplo, não são neutros, mas determinam o modo de agir”, ressalta.  

Hiperburocratização das organizações 

Outro ponto discutido é a tendência de proteção legal das grandes empresas, que implica na criação de inúmeros documentos, centenas de páginas de prescrições e procedimentos para serem conhecidos e assinados pelos colaboradores. Assim, a organização procura se blindar de implicações legais.  

As empresas estão entrando em uma fase de hiperburocratização e autojustificação para não serem penalmente responsabilizadas. “Isso acaba, muitas vezes, interferindo com os objetivos de melhoria do sistema da gestão de segurança operacional, redirecionado para a busca de culpados”, reflete o professor e pesquisador. O acúmulo incremental de novas regras e legislação que precisam ser atendidas impacta diretamente no volume de trabalho, que acaba ficando desproporcional e afetando a atividade fim, alcançando diferentes elementos das estruturas organizacionais.  

“Em um exemplo que discutimos na apresentação na Suécia, observamos um acréscimo de quase cinco vezes no volume de material requerido para formar um instrutor de voo nos últimos 10 anos. A maior parte – mais de dois terços deste material – é voltado hoje para proteção legal e não para a segurança da operação aérea em si”, diz.  

Laboratório de aprendizado em Lund 

A apresentação de parte da tese de Fogaça ocorreu no laboratório de aprendizado em Fatores Humanos e Segurança de Sistema, na Universidade de Lund. Este foi o primeiro encontro presencial do grupo desde o início da pandemia de Covid-19. O decano da Escola de Negócios e coordenador Científico do HFACTORS, Éder Heriqson, é um dos professores do curso voltado a Fatores Humanos na instituição sueca. Ele também participou das atividades desenvolvidas em junho com o orientando Fogaça, quando foram discutidos temas como ética, aprendizagem organizacional, cultura justa e cultura de segurança.  

Pesquisadores de várias partes do mundo, representando diversos segmentos, discutiram as limitações e saídas para a segurança operacional. “Os outros participantes debateram situações semelhantes em diferentes indústrias como nuclear e saúde, dedicando suas pesquisas a melhorar estes sistemas e encontrar equilíbrio entre produção, proteção e conformidade em sistemas complexos e dinâmicos”, argumenta Fogaça.  

Para ele, é muito difícil trabalhar com modelos pré-estabelecidos, sem considerar as especificidades de cada ambiente e a participação de representantes do meio estudado.  “O oferecimento de modelos e frameworks prontos não dão conta da dinamicidade destes campos. Por este motivo, nossa abordagem envolve cocriação. Nos dedicamos a ampliar as percepções em campo para permitir que caminhos emerjam do campo”, declara. Neste contexto, segundo Fogaça, o pesquisador nunca superará os repertórios e a experiência dos trabalhadores em seus próprios ambientes laborais.   

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HFACTORS retoma atividades presenciais com laboratórios de Fatores Humanos

A difusão dos conceitos de Fatores Humanos através de laboratórios entrou em uma nova fase. Se antes eles ocorriam somente de modo virtual, agora começaram os encontros presenciais. Vitória (ES), Rio de Janeiro (RJ) e Macaé (RJ) foram as primeiras cidades a receber o formato, com a participação de mais de 80 líderes e gerentes do setor de óleo e gás. “Após mais de dois anos mantendo atividades online, devido à pandemia da Covid-19, retomamos oficinas presenciais”, diz o coordenador do núcleo de pesquisa HFACTORS, Eduardo Giugliani.

Segundo o professor, os encontros ratificam os processos colaborativos e de compartilhamento. “O contato direto, o tempo de intervalos, as conversas casuais entre os participantes ainda se colocam insuperáveis quando o foco também está na troca de vivências e experiências”, ressalta. Mesmo assim, atividades online permanecem, inclusive as de laboratórios de Fatores Humanos. “O HFACTORS manteve-se resiliente em 2020 e 2021 e volta adaptado aos novos tempos, em processos que se mantêm virtuais, presenciais ou mesmo híbridos, procurando tirar o melhor de cada perspectiva de aprendizagem”, explica.

“O envolvimento das pessoas é maior e os diálogos, muito mais proveitosos”, observa um dos organizadores Victor Nazareth. Os encontros têm proporcionado, além de conhecimento sobre o tema, debates mais próximos sem a mediação do computador, o que possibilita mais concentração em torno das atividades e interação social entre os participantes que atuam no mesmo setor, mas trazem diferentes experiências a serem compartilhadas. Nos espaços de coprodução, Nazareth também identifica demandas dos líderes. “Eles vêm com ansiedade por resultados e aplicação em campo, mas o laboratório é um primeiro passo de uma jornada”, descreve. 

A pós-doutoranda do HFACTORS Caroline Capaverde, que também trabalha na organização dos laboratórios, entende que o fazer não é dissociado do pensar. Por isso, durante os encontros, o que se procura é ressignificar a prática. “O espaço proporciona problematização a partir dos conceitos de Fatores Humanos. É um convite para um percurso de atribuição de sentidos às diferentes relações que ocorrem no âmbito sistêmico, em uma rede envolvendo pessoas, artefatos e tarefas”, explica.

A proposta é de trazer fundamentos, de maneira estruturada, sobre Fatores Humanos. De forma estratégica, os laboratórios são oferecidos para pessoas que podem atuar como multiplicadoras do conhecimento e, assim, começar a experimentar os ensinamentos na rotina de trabalho, a partir de uma mudança de paradigma. 

Nazareth argumenta que é preciso desfazer a ideia de resolver problemas complexos com soluções simples. Para cada situação, é necessária uma maneira específica de lidar, informa. Nos próprios laboratórios, essa é a premissa. Os resultados são sempre estudados e reavaliadas para que haja adaptação das técnicas e otimização de aprendizado e participação.

Cerca de 400 pessoas fizeram parte dos laboratórios desde que eles iniciaram de forma online em 2021. A maioria delas tinha cargo de gerência, sendo parte gerentes de plataforma, o que mostra uma ampliação da jornada de Fatores Humanos nas áreas operacionais. O objetivo é manter os dois tipos de versão até o final do ano. 

Idealizados e colocados em prática pelo engenheiro de petróleo José Carlos Bruno e pelo professor Eder Henriqson, em parceria com pesquisadores do HFACTORS e representantes do segmento, os encontros provocam a reflexão sobre as atuais práticas de trabalho e a discussão de outras possibilidades de lidar com a rotina, com os procedimentos e com as tomadas de decisão.

Abordagem sistêmica

Os facilitadores contrastam a visão tradicional em relação à segurança com uma visão que considera o contexto para entender os eventos. Ainda hoje é muito comum a adoção de práticas punitivas e a busca por causas isoladas para os problemas. Porém, esse tipo de medida não tem gerado resultados esperados para esse campo.

Por isso, a perspectiva trazida nos laboratórios procura sensibilizar os participantes a observar o desempenho humano nos sistemas complexos como algo condicionado pelo modo como o trabalho está organizado e pela forma que as tecnologias foram projetadas. “Fatores humanos basicamente procura interpretar e entender a relação do humano com tudo aquilo que o cerca”, explica Bruno. Ele acrescenta a necessidade de entender as condições construídas dentro de um sistema que podem levar a um erro e esse erro desencadear um conjunto de fatores responsáveis por uma catástrofe.

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Cultura Justa: responsabilidade compartilhada para garantir aprendizado nas organizações

Crédito: Unsplash

Os processos de gestão, de administração e também as condutas esperadas dos membros de uma determinada organização fazem parte de uma cultura local, a qual rege boa parte das dinâmicas nos ambientes de trabalho. Quando as práticas são pautadas por um sistema de responsabilidade compartilhada entre os trabalhadores, os reguladores e a gestão, procurando gerar aprendizado, confiança e cooperação, isso é chamado de cultura justa.

As pesquisadoras da equipe do Serviço Social do núcleo HFACTORS Beatriz Gersheson, Kathiana Arend e Inês Amaro explicam que esse conceito tem relação com a maneira que os sistemas respondem aos comportamentos de seus colaboradores. Se algo “dá errado”, por exemplo, o objetivo é aprender por meio da participação e da compreensão das atividades e responsabilidades.

A cultura justa engloba uma ampla gama de situações em que seus princípios podem ser considerados e aplicados para a melhoria de todos os processos organizacionais, segundo as pesquisadoras. Elas entendem que, para se chegar a um modelo de cultura justa, é necessária a participação dos envolvidos na organização. Uma das ações é a transformação da comunicação para evitar assimetrias de poder e, assim, reduzir também práticas retributivas, com objetivo de punição.

As práticas devem ser orientadas por processos democráticos e de responsabilização, ainda de acordo com a equipe do Serviço Social. Implica que haja, necessariamente, uma mudança de olhar e das perguntas que movem os processos.

Segurança organizacional

À medida em que a cultura de segurança das organizações incorpora esta racionalidade, o foco passa a ser nas necessidades e na obrigação em seguir uma abordagem colaborativa entre as pessoas direta e indiretamente afetadas por um incidente que causou ou possa causar dano. Para as pesquisadoras, esta é a base da mudança.  

A aposta em uma cultura justa restaurativa – que visa a reparação dos danos e responsabilização dos atos – oferece a possibilidade de ampliação da segurança nas organizações, fortalecendo a atuação dos trabalhadores. Eles podem participar ativamente do monitoramento do local de trabalho e estar envolvidos nos esforços para a melhoria da segurança organizacional.

Mobiliza ainda uma infraestrutura de aprendizagem contínua para prevenir a exclusão nas relações de trabalho, orientando-se por processos justos e inclusivos, intimamente associados à qualidade de interação e comunicação nas relações de trabalho. Assim, são cultivados espaços em que os trabalhadores possam ser ouvidos e tratados com respeito

O processo para consolidação da cultura justa ainda deve contar com aprendizagem coletiva e colaborativa, rompendo com os processos restritivos à culpabilização e à penalização. Da mesma forma, as assistentes sociais observam importantes a educação corporativa com o objetivo de desenvolver a liderança e a comunicação em nível interpessoal e intergrupal. Tudo isso privilegia a construção de competências comportamentais como escuta ativa, empatia, confiança e trabalho em equipe.

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Aplicação de Fatores Humanos na aviação é vista como referência

Foto: Ross Parmly/Unsplash

Uma das primeiras áreas a utilizar Fatores Humanos como uma abordagem sistêmica para trabalhar com segurança, a aviação se tornou referência na aplicação de uma nova visão espalhada para outros setores. Se antes as organizações identificavam problemas e soluções de forma segmentada, agora a complexidade das operações é reconhecida e as partes são tratadas como indissociáveis com repercussão no todo. 

O coordenador do curso de Ciências Aeronáuticas da PUCRS e membro do HFACTORS, Lucas Fogaça, conta que as pesquisas na área da aviação com esse enfoque tiveram seus primeiros ensaios na Segunda Guerra Mundial, mas ganharam força a partir do começo dos anos 2000, com abordagens mais sociológicas envolvendo cultura justa e engenharia de resiliência. “O foco progressivamente deixou de ser a culpabilidade dos operadores e a busca por respostas passou a se voltar para o sistema como um todo – envolvendo desde os operadores de linha de frente, passando pelas interações organizacionais e até a regulação”, destaca.   

Considerando os princípios de Fatores Humanos, o erro não deve ser visto como foco de insegurança e sim um reflexo das condições organizacionais, de gestão, de trabalho e tudo o que envolve as operações. “Estamos em uma época em que os Fatores Humanos remetem aos estudos daquilo que influencia a performance humana, incluindo as tecnologias, as estruturas, as pressões econômicas etc.”, complementa o mestrando e pesquisador do núcleo HFACTORS Rafael Trancoso.

Nas investigações de acidentes, segundo Trancoso, a compreensão do contexto colabora para o entendimento das tomadas de decisão. “É interessante entender o porquê o piloto pensou como pensou e agiu como agiu”, lembra, acrescentando que os elementos cognitivos, organizacionais e ambientais estavam em interação e podem ter levado o trabalhador a tomar determinada decisão, que se apresentou como a mais adequada naquele momento. 

Ao adotar uma abordagem de Fatores Humanos, o discurso de que um evento ocorreu pelo erro de um indivíduo perde força. “Começamos a enxergar que, se uma pessoa não cumpriu o procedimento, é porque talvez o procedimento não fizesse sentido ou não fosse aplicável. Se o sujeito foi treinado para aquilo e não conseguiu executar a tarefa, talvez o treinamento não estivesse adequado, ou talvez a situação exceda a capacidade do sistema”, declara Fogaça.

Aplicação para outras áreas 

A interação do indivíduo com o trabalho, os equipamentos e os procedimentos mostram a elevação do nível de complexidade de atividades e a demanda por condições de segurança e eficiência nos processos. A aviação tem estimulado, segundo Trancoso, uma abertura para que outros setores busquem e prezem pelas condições de trabalho e por habilidades. “O Crew Resource Management (CRM) é um exemplo de que outras organizações têm buscado na aviação o treinamento e a capacitação de equipe” explica. 

Surgido a partir dos anos 1980, o CRM representa o esforço de entender o porquê alguns acidentes estariam ocorrendo, mesmo não havendo falhas técnicas nas aeronaves. Houve uma evolução desde cockpit (focado nos recursos da cabine de comando), passando pelo crew (pilotos e comissários) até o corporate resource management (recursos de toda a organização). “Se entende que muitas das decisões estão fora do ambiente de voo, como por exemplo, em centros de operação e nas redes de contato e trabalho tecidos a partir daí, como controle de tráfego aéreo, engenharia, operações, alta direção, fabricantes, auxílio via tele-medicina etc..”, ressalta Fogaça.

O que era trazido para a aviação em termos de segurança operacional e de sistema foi considerado como positivo para outros setores. Por isso, muitas equipes de hospitais e da indústria de óleo e gás, por exemplo, começaram a utilizar a aviação como exemplo para algumas atividades, como a realização dos cursos de CRM.  

Apesar de os fundamentos de Fatores Humanos já estarem difundidos, ainda não são predominantes em todo o setor produtivo. As práticas mais tradicionais com aplicação de técnicas e modelos diretos e relativamente simples e rápidos de serem implementados, como checklist e manuais, ainda estão muito presentes. Elas, no entanto, relativizam a complexidade, tratando os sistemas como previsíveis. “Quando reduzimos uma realidade complexa e não mapeável a um modelo, muitas questões ficam de fora, como os aspectos sociais”, observa Fogaça. De acordo com ele, o social pesa tanto quanto o técnico na questão da segurança.

A proposta de Fatores Humanos, mais sociológica e sistêmica, considera as relações e os significados implícitos e explícitos para a implementação nas operações, na regulação, na confecção de procedimentos e nas tomadas de decisão ao longo de toda a hierarquia. “Envolve mudança, ou construção de uma cultura associada. Isso dá trabalho e não é tão fácil de auditar”, salienta, lembrando que, por isso, as práticas demoram e são difíceis de implementar.  Mesmo na aviação, área em que a abordagem sistêmica já é consenso, a prevenção ainda precisa avançar e considerar aspectos políticos sobre os procedimentos, por exemplo.

Quase 300 participam de Laboratórios de Fatores Humanos em 2021

A ideia de laboratórios para introduzir e discutir sobre conceitos de Fatores Humanos nas práticas de trabalho se consolidou em 2021. Quase 300 representantes do setor de óleo e gás participaram dos espaços de interação e reflexão da abordagem sistêmica das relações laborais. Idealizados e colocados em prática pelo engenheiro de petróleo José Carlos Bruno e pelo professor Eder Henriqson, em parceria com pesquisadores do HFACTORS e representantes do segmento, o formato deve continuar no próximo ano e encaminhar novas fases.

Os encontros são adaptados ao grupo de profissionais, com aulas online, em que são transmitidos conceitos e informações científicas relacionadas à segurança. Os participantes são provocados a pensar suas práticas atuais e a discutir outras possibilidades de lidar com a rotina, com os procedimentos e com as tomadas de decisão.

Abordagem sistêmica

Os facilitadores contrastam a visão tradicional em relação à segurança com uma visão que considera o contexto para entender os eventos. Ainda hoje é muito comum a adoção de práticas punitivas e a busca por causas isoladas para os problemas. Porém, esse tipo de medida não tem gerado resultados esperados para esse campo.

Por isso, a perspectiva trazida nos laboratórios procura sensibilizar os participantes a observar o desempenho humano nos sistemas complexos como algo condicionado pelo modo como o trabalho está organizado e pela forma que as tecnologias foram projetadas. “Fatores humanos basicamente procura interpretar e entender a relação do humano com tudo aquilo que o cerca”, explica Bruno. Ele acrescenta a necessidade de entender as condições construídas dentro de um sistema que podem levar a um erro e esse erro desencadear um conjunto de fatores responsáveis por uma catástrofe.

Motivação dos participantes

Entre maio e dezembro, foram 13 turmas e um total de 289 pessoas que participaram das aulas e dos debates, somando 152 horas. “O laboratório em si cumpre o seu papel, tanto que a grande maioria das pessoas sai realmente motivada a começar uma jornada”, resume o engenheiro, avaliando que o formato disponibilizado é diferente das ferramentas que incluem apenas textos ou resumos. A discussão promovida permite que os profissionais repensem suas atividades e troquem ideias com seus pares, o que tem gerado um bom engajamento.

Para 2022, a ideia é continuar com os laboratórios e partir para outras fases desse processo, que tem sido chamado de jornada de Fatores Humanos. Após a disseminação dos conceitos, uma das ideias é investir em formação de especialistas em Fatores Humanos para que sejam agentes de compartilhamento e expressão prática dos conceitos. A PUCRS deve ser parceira nisso. Ainda estão nos planos programas de capacitação na área, com possibilidade de experimentação e aplicação em situações concretas de trabalho. 

Live marca a inauguração do núcleo HFACTORS

O ser humano e suas relações com o sistema complexo de trabalho foi o tema da live que marcou o lançamento do núcleo de pesquisa HFACTORS nesta quarta-feira. O coordenador-geral do centro, Eduardo Giugliani, mediou um diálogo entre o coordenador de pesquisa, Eder Henriqson, e o engenheiro de petróleo da Petrobras José Carlos Bruno, transmitido pelo YouTube da PUCRS. Ambos falaram sobre os dilemas e controvérsias da cultura de segurança.

Segundo Henriqson, vivemos um momento em que operamos e dependemos de muitos sistemas, com potencial de causar danos materiais, ambientais ou humanos. A interação ética entre o trabalho exercido nas organizações e o erro colocam o humano cada vez mais em evidência. “É o ser humano que vai saber enfrentar o que é possível fazer e o que tem que fazer”, explica Bruno.

A atuação de diferentes setores, como a indústria de óleo e gás, da qual Bruno faz parte, está cada vez mais complexa. Por conta disso, a demanda em relação aos trabalhadores é maior na composição do sistema. Para ele, as pessoas passam a ser a peça-chave nas atividades diárias, pois elas têm a capacidade de lidar com o que não está previsto. “Dependemos demais de muitas dessas atividades extremamente perigosas e de alto risco e a discussão é de como a gente consegue evoluir nesse tipo de atividade”, complementa

Consolidação da ideia

O tema do erro foi tratado com a perspectiva de Fatores Humanos que é o foco de trabalho do HFACTORS. Sobre isso, Giugliani destacou atuação interdisciplinar dos integrantes do núcleo, composto por diversas áreas do conhecimento, e que vêm de uma trajetória desde 2014, quando começou um projeto de pesquisa na área de óleo e gás.

O pró-reitor de pesquisa e pós-graduação da PUCRS, Carlos Eduardo Lobo, destacou a trajetória do núcleo. “Reflete muito o que a universidade tem desejado para a pesquisa e, na medida do possível, temos tentado induzir, criando uma pesquisa interdisciplinar, aplicada, e parcerias com empresas e organizações”, afirmou. Ele caracterizou a atividade dos participantes como moderna e de interação com a sociedade, contribuindo com um impacto social.

Interação do núcleo com a comunidade

A live também marcou o lançamento da Plataforma HFACTORS, que é um canal aberto para interação e repositório de conhecimento sobre fatores humanos e resiliência. Também foram apresentados o Linkedin do HFACTORS, o site, o blog e a página YouTube, em que qualquer pessoa pode acompanhar o conteúdo produzido pelos pesquisadores do núcleo.

A gravação da live está disponível no canal da PUCRS no YouTube.

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Oficinas interdisciplinares são fonte de aprendizagem e de inovação

A realização de um projeto de pesquisa e desenvolvimento (P&D) envolvendo múltiplas disciplinas e áreas de conhecimento é algo desafiador e, ao mesmo tempo, apresenta várias possibilidades de aprendizagem e inovação. A coprodução de conhecimentos entre as várias equipes e áreas de conhecimento, por exemplo, é algo que pode ser promovida e facilitada por meio da utilização de diversas ferramentas e espaços colaborativos.

Dependendo da fase de execução de um projeto de P&D, esses espaços podem ser mecanismos para o compartilhamento de informações e conhecimentos entre disciplinas, discussão de problemas e construção de soluções a partir da conexão ou integração de abordagens teóricas, métodos e resultados de pesquisa.

HFACTORS


Desde a sua formação, o núcleo HFACTORS tem realizado várias atividades com essa proposta. Entre as ferramentas e espaços implementados para trabalhar em conjunto e reunir diferentes equipes, estão as Oficinas Interdisciplinares. Elas podem ter variados formatos e sua dinâmica, geralmente, é organizada segundo objetivos preestabelecidos pela coordenação.

Em agosto de 2021, ocorreu a Oficina Interdisciplinar que contou com a participação de quase 40 pesquisadores de diferentes equipes integrantes do HFACTORS. De forma online, os pesquisadores buscaram identificar pontos de integração dos resultados da pesquisa exploratória realizada entre 2020 e 2021 na indústria de óleo e gás no Brasil. Foram discutidos potenciais conexões de conhecimentos e identificaram formas de relacioná-los, visando possíveis aplicações em sistemas sociotécnicos complexos.

A atividade foi organizada em torno das seguintes temáticas: “fundamentos e princípios de fatores humanos”, “desenvolvimento de lideranças” e “fatores contribuintes para respostas resilientes”. A dinâmica da oficina aconteceu em três momentos. Inicialmente, cada temática foi apresentada por um pesquisador (bolsista de doutorado ou pós-doutorado) destacando os principais aspectos da análise realizada previamente por um grupo de trabalho interdisciplinar. Em um segundo momento, houve debates em pequenos grupos (uma sala para cada temática), onde os participantes tiveram oportunidade de manifestar sua opinião e agregar outras análises, de modo a gerar insights para as próximas agendas da pesquisa. Ao final, um representante de cada sala fez um relato para todos os participantes abrindo a oportunidade para comentários e sugestões.

Avaliação


Segundo o coordenador do HFACTORS, professor Eduardo Giugliani, a coprodução durante a oficina interdisciplinar consagra um momento importante de interdisciplinaridade. A avaliação, realizada por meio de um questionário respondido pelos participantes, apontou que os times conseguiram cumprir seus objetivos, mas a ampliação do tempo de discussão, por exemplo, foi apontada como uma demanda dos participantes e sugestão para próximas oficinas.

Segundo a doutora em Engenharia e Gestão de Conhecimento Jane Lucia S. Santos, que integra a coordenação do núcleo de pesquisa, a interdisciplinaridade é um processo de aprendizagem, que acontece de forma cíclica. “Devemos continuamente investir mais tempo, esforço e ferramentas, de modo que se torne orgânico e imbricado naturalmente nas nossas atividades”, disse. Neste sentido, o HFACTORS continua implementando e criando diversos espaços que promovam e facilitem a coprodução de conhecimentos entre equipes, disciplinas, áreas de pesquisa e, até mesmo, organizações.