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PUCRS conclui pesquisa sobre segurança na área de óleo e gás com base em conceitos de Fatores Humanos

Crédito: Eduardo Wannmacher

Projeto contratado pelo consórcio Libra-Petrobras e ANP contou com mais de 40 pesquisadores e identificou dinâmicas de trabalho e fatores para otimizar o sistema offshore

Um seminário realizado no Rio de Janeiro hoje marcou a finalização da pesquisa conduzida pela PUCRS em parceria com o consórcio Libra-Petrobras e apoio da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Durante três anos, cerca de 40 pesquisadores de várias áreas do conhecimento se dedicaram a estudar o campo de exploração de petróleo em alto mar e propor ferramentas para melhorar a segurança. Novas fases do trabalho estão sendo negociadas para que os avanços sigam ocorrendo no setor.

Uma primeira etapa do projeto já havia ocorrido entre 2017 e 2018, após anos de negociação com o consórcio, com o objetivo de definir e ajustar o foco da pesquisa. A fase concluída agora “Integração de Fatores Humanos e Resiliência para o Fortalecimento da Cultura de Segurança na Indústria de Óleo e Gás” teve seu começo em 2019 com a mesma abordagem, a qual reconhece as organizações como ambientes sociotécnico complexos, envolvendo diversos fatores atuando simultaneamente no sistema organizacional das empresas.

Para identificar as especificidades da indústria de óleo e gás, o projeto contou com pesquisadores de áreas como Engenharia de Resiliência, Sociologia, Engenharia e Gestão do Conhecimento, Serviço Social, Sociologia, Linguística, Psicologia e Comunicação. Foram usados métodos quantitativos e qualitativos, incluindo questionários, diversos tipos de entrevistas, story telling, grupos focais e observações de campo, entre outros. A soma chega a mais de mil horas de gravações, centenas de pessoas entrevistas e dezenas de documentos analisados.

Tudo isso resultou em temas considerados prioritários para se trabalhar com a organização, já que o projeto ocorreu com a participação de representantes da indústria, caracterizando a transdisciplinaridade do processo de pesquisa aplicado. Os pesquisadores identificaram que havia demandas técnicas e não-técnicas para melhorar a cultura de segurança. Assim, foram formados grupos de trabalho para atuar nas áreas, como por exemplo: princípios e conceitos de fatores humanos, liderança, investigação de acidentes, comunicação, cultura justa e autocuidado.  

À medida que as ferramentas eram delineadas, os trabalhadores do setor procuraram identificar sua aplicabilidade, revisão e melhorias. Em alguns casos, os profissionais da indústria de óleo e gás aplicaram as sugestões de forma piloto e adaptaram para a realidade local.

Disseminação de conhecimento

Ao longo do contrato do projeto, também foram desenhadas estratégias para a disseminação do conhecimento gerado pela pesquisa. Neste sentido, foram elaborados vídeos, documentário, site e matérias jornalísticas, além de uma plataforma interativa para ampliar a sinergia de acadêmicos e pessoas que atuam neste mercado.

Boa parte dos pesquisadores do projeto esteve na sede do Rio hoje para discutir os resultados do trabalho com o setor. No local, estavam também disponíveis posters com resumos da produção científica alcançada ao longo da pesquisa: seis teses de doutorado, duas dissertações de mestrado, 27 artigos, e dois capítulos em livro internacional.

Cabe destaque para dois legados frutos da pesquisa. Um deles é a constituição de um Centro de Referência em Fatores Humanos e Resiliência na PUCRS, lançado ao final de 2021 – HFACTORS – Human Factors and Resilience Research. O outro é a criação de um Programa de Pós-graduação em nível de Especialização – Fatores Humanos e Segurança Operacional, atualmente em sua 1ª Edição. O curso é pioneiro no Brasil.

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Aproximação de campo de estudos continua sendo importante na fase final de pesquisa

O principal projeto do núcleo HFACTORS começou com pesquisa exploratória de reconhecimento do ambiente estudado, dinâmicas e especificidades do setor offshore. A partir daí, as fases de análises e de propostas de ferramentas para fortalecer a segurança foram desenvolvidas, sempre com a participação de quem trabalha na área. A vivência das rotinas e a aproximação do campo é muito importante para os pesquisadores, inclusive na etapa mais próxima da conclusão de todo o processo.

As pós-doutorandas Karina ReifNaida Menezes e Priscila Susin retornaram a uma unidade de produção para fazer entrevistas e identificar a aplicabilidade de uma técnica formulada para ser usada em investigação de acidentes. Além disso, elas acompanharam como ocorre a comunicação durante operações da plataforma, fizeram observação participante e apresentaram parte da pesquisa aos trabalhadores embarcados. 

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HFACTORS inicia mais uma pesquisa na área de óleo e gás

Os pesquisadores do HFACTORS, ampliando sua área de atuação em Fatores Humanos, estão desenvolvendo um projeto para o fortalecimento da cultura de segurança da Karoon Energy Brasil, uma empresa internacional de exploração e produção de petróleo e gás com ativos no Brasil e Austrália.   

Desde 2014, o HFACTORS estuda e desenvolve soluções em Fatores Humanos, principalmente com foco em segurança, em sistemas sociotécnicos complexos. A experiência em áreas como exploração de petróleo, aviação e saúde vem consolidando o conhecimento da equipe.

“A ideia é fazer um diagnóstico da empresa no contexto de fatores humanos. Em uma segunda etapa, haverá sensibilização sobre essa abordagem”, explica o coordenador do núcleo HFACTORS, Eduardo Giugliani.

Para a coleta de dados, serão realizadas entrevistas, oficinas colaborativas, observação e análise de operações em campo, com embarque de pesquisadores em plataformas de petróleo em alto mar, na costa brasileira.

Nesta pesquisa, que iniciou em abril e tem duração prevista de 15 meses, a equipe é formada por pelo menos 15 profissionais, com formação interdisciplinar, com foco em engenharia, resiliência e ciências sociais aplicadas. A liderança deste projeto cabe à Escola Politécnica e à Escola de Negócios da PUCRS, incluindo pesquisadores de outras áreas.

Ao final do trabalho, o grupo tem expectativa de reunir informações e conhecimentos sobre os atores e as dinâmicas organizacionais que possam contribuir com a melhoria do desempenho em segurança da Karoon Energy. Os avanços do projeto serão conquistados com base em conceitos de pesquisa-ação, quando os pesquisadores do HFACTORS trabalham em conjunto com os colaboradores da empresa, construindo soluções e proposições de forma compartilhada.

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Pós-graduação sobre Fatores Humanos inicia na PUCRS

PUCRS inicia na próxima segunda-feira (26) uma pós-graduação para aprofundar conhecimentos de cultura de segurança. O conteúdo, ministrado por especialistas nacionais e internacionais, é focado em conceitos de Fatores Humanos – uma abordagem que considera principalmente as condições que influenciam o comportamento no trabalho, o desempenho e a segurança – e resiliência organizacional. 

O curso, considerado pioneiro na área, terá duração de 15 meses para uma primeira turma formada por profissionais da Petrobras e da Transpetro. No ano que vem, já está prevista uma segunda edição.

Os professores da PUCRS Eder Henriqson e Eduardo Giugliani coordenam o projeto em parceria com o engenheiro de petróleo da Petrobras Jose Carlos Bruno, diretor da Seção Técnica de Fatores Humanos da SPE – Society of Petroleum Engineers. O curso é liderado pela Escola de Negócios junto com a Escola Politécnica da PUCRS.

Para mais informações, entre em contato pelo e-mail [email protected]

GESTÃO DO CONHECIMENTO: Indicadores podem auxiliar na melhoria dos sistemas

O conhecimento pode estar vinculado ao homem, aos processos e às máquinas. Estudado como matéria-prima para auxiliar estratégias organizacionais, esse recurso é foco de uma área de pesquisa chamada Gestão do Conhecimento, a qual faz parte do núcleo HFACTORS.

Segundo o professor Paulo Selig, o trabalho utilizando essa perspectiva está voltado para indicadores intangíveis, relacionados aos indivíduos, que são primordiais para as eventuais melhorias em sistemas complexos. “Queremos entender como acontecem as inter-relações entre pessoas, empresas e sociedade e que tipos de intervenções podemos fazer para melhorar os processos”, ressalta.

Selig explica que as organizações são analisadas em três grandes aspectos: capital humano, capital estrutural e capital relacional. O capital humano envolve capacidades de competência; o estrutural diz respeito aos processos dentro da empresa, conhecimentos que já estão estabelecidos e são potenciais de referência; já o capital relacional inclui as relações de clientes e fornecedores até com a sociedade.

“Esses três devem estar equilibrados. Procuramos entender onde estão os pontos fracos e aplicamos medidas de mitigação. Ao mesmo tempo, fazemos melhorias dos pontos fortes”, complementa. Determinando o estado atual da organização, é possível criar metas e ações para, futuramente, ter um ganho de capitais intelectuais.

São observados aspectos como armazenagem e compartilhamento do conhecimento. “O foco é tentar entender esse bem intangível tão importante nas épocas atuais e como fazer e a gestão, a estratégia e a disseminação”, explica.

Enquanto a Gestão do Conhecimento observa os processos organizacionais, a administração de pessoas e de tecnologias, a Engenharia do Conhecimento serve como um instrumento para realizar a condução, criando formas de utilizar os recursos com determinada finalidade. Essas duas áreas fazem parte do núcleo HFACTORS assim como outras disciplinas, que atuam de forma interdisciplinar em pesquisas de Fatores Humanos.

Assista ao vídeo de Selig falando sobre o assunto no nosso canal do YouTube

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Narrativas biográficas ajudam a compreender fenômenos do trabalho

Crédito: Brett Jordan, Unsplash

Histórias de vida trazem não só informações individuais, mas também elementos sociais, culturais, além da contextualização do tempo histórico e econômico. Desde a formação do núcleo HFACTORS, o método que utiliza narrativas biográficas tem sido usado para entender fenômenos do trabalho a partir dos próprios trabalhadores. Os pesquisadores do grupo de Sociologia entrevistam pessoas inseridas no ambiente estudado e perguntam sobre suas trajetórias desde a infância, passando pela escolha profissional, inserção no mercado e construção de carreira.

Essa abordagem, segundo o coordenador da equipe de Sociologia, Hermílio Santos, auxilia no diagnóstico de campo, porque, quando um colaborador ingressa em uma organização, carrega com ele interpretações passadas e visões de mundo, que ajudam a informar a maneira como agirá. “A análise transborda o ambiente concreto, porque as vivências não se encerram em si. Elas têm um histórico”, explica. 

Na prática, a entrevista começa com uma pergunta aberta solicitando que a pessoa conte sobre sua biografia. Esse primeiro relato é feito de forma livre sem interrupções. Após o entrevistado sinalizar que finalizou, o entrevistador retoma cada um dos temas abordados, procurando obter narrativas de experiências vividas. “Narrativa é um tipo de texto que tem um percurso cronológico”, explica a historiadora e pesquisadora do núcleo Naida Menezes. É como se fosse uma cena de filme em que o ouvinte consegue imaginar o ambiente e o que aconteceu. Esse texto difere da avaliação e da argumentação. “O que queremos nessa forma de pesquisa são vivências concretas, não a opinião ou o julgamento dos entrevistados”, complementa Menezes, que é pós-doutoranda em Sociologia. 

Na fase de análise, os pesquisadores procuram diferenciar as informações sobre as vivências e as que são passadas como interesse de apresentação, muitas vezes influenciado pelo contexto da entrevista. “No ambiente de trabalho, é comum que o entrevistado procure atender às expectativas do empregador e direcione sua fala para a conformidade às regras da empresa”, destaca a jornalista e pesquisadora Karina Reif. Apesar ser difícil de evitar que isso aconteça, é possível minimizar fazendo entrevistas com sigilo e formulando questões que não orientem o discurso. “As perguntas muito fechadas ou aquelas em que o entrevistado só pode responder sim ou não restringem o que pode ser obtido no momento da entrevista.”

Fatores Humanos 

Esse método é um dos utilizados pelo grupo de Sociologia, combinado com a etnografia por meio da observação participante. Dentro do núcleo HFACTORS, outras ferramentas também auxiliam na compreensão dos temas investigados, como questionários, storytelling, grupos focais, entre outros. Todas essas técnicas têm vínculo com a abordagem de Fatores Humanos

“A área de Fatores Humanos tenta entender as diferentes práticas que fazem uma organização existir, que a constroem e que a colocam para frente”, declara a psicóloga e pós-doutoranda de Sociologia Priscila Susin.

É uma abordagem descritiva, segundo ela, que tenta olhar e dizer como um sistema é composto de diversas partes em interação. “Tenta mostrar como as diferentes partes desse sistema funcionam, mas mais do que isso, tenta entender como essas partes se comunicam, como elas coexistem e constroem juntas.” 

Dessa maneira, as narrativas ajudam a visualizar como as práticas dos indivíduos ocorrem no cotidiano e como eles interagem com outros indivíduos, com o trabalho e com a organização, além de outros aspectos. Isso tudo do ponto de vista dos próprios entrevistados. 

Efeito terapêutico

Como os trabalhadores são ouvidos de uma maneira mais livre e aberta, os pesquisadores observam um efeito para além da pesquisa. “Os trabalhadores sentem que estão sendo considerados e respeitados como participantes e como criadores”, salienta Menezes. 

Esse “efeito terapêutico” já foi explicitado em outros estudos e continua sendo verificado nos trabalhos realizados pelo HFACTORS. “Muitas vezes, as pessoas não têm um espaço para falar de algumas questões e se abrir. Com esse método, a gente está falando: ‘é tudo sobre você, não vamos julgar, não vamos interromper, nem impor o que é certo ou errado’”, explica Susin. 

Divulgação dos resultados 

A maneira de transmitir os resultados desse tipo de pesquisa pode ser por relatórios e apresentações, por exemplo. Contudo, o HFACTORS têm complementado esses formatos mais tradicionais com materiais audiovisuais. Segundo a jornalista e pós-doutoranda em Ciências Sociais Kamila Almeida, esse recurso possibilita que as temáticas sejam explicitadas de forma atrativa e educativa. Os vídeos são usados na fase de intervenção das pesquisas junto aos trabalhadores. 

Almeida e Santos também estão trabalhando em um documentário que funcionará como um retrato concreto de alguns aspectos do ambiente laboral do setor de óleo e gás, que é foco de uma das pesquisas desenvolvidas pelo núcleo. 

PSICOLOGIA: Desempenho pode ser melhorado a partir do conhecimento do papel dos trabalhadores

Em estudos de Fatores Humanos no ambiente de trabalho, o campo da Psicologia pode contribuir, especialmente, na compreensão do papel dos colaboradores e na promoção de cultura e de clima de segurança. “Existe toda uma área de concentração dentro da disciplina que investiga os indivíduos nas organizações e de que forma eles, os seus líderes e a própria organização podem buscar certos resultados pensando no desempenho e nas suas entregas”, explica a professora da PUCRS e pesquisadora do HFACTORS Manoela Ziebell de Oliveira.

Em um sistema sociotécnico complexo, essa área de conhecimento ajuda a entender o que leva as pessoas a adotarem comportamentos de segurança e a promover um clima de menor risco. Segundo a doutora em Psicologia, o clima de segurança trata-se de cognições compartilhadas entre as pessoas de que é mais importante ter segurança no trabalho do que a performance.

Cultura de segurança

Da mesma forma, a Psicologia investiga a maneira como a cultura de segurança está presente no ambiente e, caso não esteja da maneira esperada, pode auxiliar na incorporação de atitudes e envolvimento dos participantes daquele meio. O objetivo é que a organização se preocupe em desenvolver um contexto de trabalho seguro combinado com os resultados positivos para o negócio.

“A Psicologia pode atuar tanto no caráter mais preventivo antes de a gente perceber que não existe uma cultura de segurança, quanto num caráter de promoção de mudança para que a gente consiga alcançar essa cultura e ter uma cognição compartilhada de que isso é importante”, descreve.

Desenvolvimento de lideranças

Dentre as diferentes estratégias metodológicas utilizadas pela Psicologia, os instrumentos psicométricos avaliam variáveis relacionadas a crenças, comportamentos e atitudes das pessoas com relação a várias temáticas. Uma das áreas de investigação da Psicologia Organizacional e do Trabalho é o desenvolvimento das lideranças e o papel delas em diferentes desfechos.

“Todos os elementos que a Psicologia estuda estão ligados a Fatores Humanos. A liderança e a comunicação, por exemplo, são aspectos que são foco de estudos em diferentes áreas e vertentes dessa área de conhecimento”, conclui.

A Psicologia é uma das áreas de pesquisa do núcleo HFACTORS, que conta também com Sociologia, Engenharia e Gestão do Conhecimento, Serviço Social e Engenharia de Resiliência, entre outras. As equipes trabalham em conjunto para promover a segurança com a perspectiva de Fatores Humanos.

Confira o vídeo da professora Manoela Ziebell de Oliveira sobre o assunto.

SERVIÇO SOCIAL: Contradições, fatores de risco e de proteção em estudos sobre trabalho

Inês Amaro é coordenadora do grupo de Serviço Social do HFACTORS

Como profissão, o Serviço Social tem o objetivo de pesquisar e intervir na realidade social e suas contradições. A disciplina se ocupa, no campo do trabalho, do sujeito e suas relações, dos impactos e dos produtos, muitas vezes expressos em desigualdades.

“Nosso objeto de intervenção e de estudo são as expressões da questão social e, historicamente, temos uma trajetória relacionada ao campo do trabalho e, neste caso da segurança, no e do trabalho”, observa a professora de Serviço Social da PUCRS e integrante do núcleo HFACTORS Inês Amaro da Silva. 

Desde a década de 1980, existem produções científicas sobre a atuação do Serviço Social na área organizacional, investigando, entre várias temáticas, a questão da saúde e da segurança no trabalho em instituições públicas e privadas. “Temos muitas pesquisas nesse campo e a intervenção com a presença de assistentes sociais dentro de empresas, atuando não só na questão da saúde e na segurança ocupacional, mas também na qualidade de vida no trabalho, cidadania e responsabilidade social empresarial”, ressalta a pesquisadora que é doutora em Educação. 

Fatores Humanos

Mais recentemente, essa atenção acompanhou a evolução no campo da segurança operacional para a perspectiva de Fatores Humanos, em que a dimensão social e a relacional do trabalho passaram a ser incorporadas à maneira de olhar para os mais variados temas da complexidade organizacional e dos fatores relacionados à proteção e riscos. “Na relação entre homem, trabalho e seus artefatos gerados, nós vamos atuar no que chamamos de dimensão social do trabalho e as relações com o sujeito no contexto laboral, familiar e social mais amplo”, descreve a professora. 

Essa área de pesquisa procura compreender os impactos das relações que se constroem no ambiente e também quais são as condições em que as atividades ocorrem. A intervenção é pensada para criar condições mais favoráveis para o desenvolvimento humano e social e de relações democráticas que envolvam participação, autonomia e acesso a direitos. “Tem a ver com os nossos princípios éticos e a nossa metodologia de intervenção”, explica. 

Em um projeto de pesquisa de Fatores Humanos, combinado com outras disciplinas, como ocorre no núcleo HFACTORS, o Serviço Social tem o papel de desvelar as condições e os modos de vida no trabalho, a partir de algumas categorias, incluindo, por exemplo, comunicação, participação, gestão democrática, entre outras. Também se ocupa dos fatores de risco e de proteção presentes nas organizações. 

Confira o vídeo da professora Inês Amaro da Silva falando sobre o assunto.


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Artigo mostra processo decisório descentralizado na aviação

Um estudo realizado pelos pesquisadores do HFACTORS Eder Henriqson e Lucas Bertelli Fogaça mostra que as decisões tomadas nas operações de voo não são centralizadas e, sim, distribuídas em várias áreas. Portanto, a resiliência do sistema depende da combinação dos repertórios dos diferentes integrantes e não só de uma figura, como o operador de voo.

O artigo, que acaba de ser publicado no Journal of Cognitive Engineering and Decision Making e conta com Guido Carim Jr e Felipe Lando, apresenta dados sobre o processo decisório na área da aviação. Segundo Fogaça, as companhias aéreas operam em um ambiente altamente variável que interfere na malha de voos, sendo o Centro de Controle de Operações (CCO) a principal estrutura responsável por garantir operações tranquilas e rentáveis.

O pesquisador explica que, até então, os estudos sugeriam que as decisões eram centralizadas no coordenador de voo, um figura central em um CCO, porém, o trabalho do qual participa aponta que, além desse personagem, outros fazem a diferença:


1) o processo decisório é distribuído e descentralizado em várias áreas e não concentrado na figura do Coordenador de Voo;
2) especialistas de cada área estão constantemente e ativamente procurando sinais de interrupção enquanto monitoram a operação normal e reequilibram os recursos;
3) especialistas da área contam com um repertório de estratégias para implantar soluções inovadoras em cenários dinâmicos;
4) a resiliência do sistema frente às interrupções emerge da combinação dos repertórios dos diferentes integrantes (decisores) do CCO.

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Cultura Justa: responsabilidade compartilhada para garantir aprendizado nas organizações

Crédito: Unsplash

Os processos de gestão, de administração e também as condutas esperadas dos membros de uma determinada organização fazem parte de uma cultura local, a qual rege boa parte das dinâmicas nos ambientes de trabalho. Quando as práticas são pautadas por um sistema de responsabilidade compartilhada entre os trabalhadores, os reguladores e a gestão, procurando gerar aprendizado, confiança e cooperação, isso é chamado de cultura justa.

As pesquisadoras da equipe do Serviço Social do núcleo HFACTORS Beatriz Gersheson, Kathiana Arend e Inês Amaro explicam que esse conceito tem relação com a maneira que os sistemas respondem aos comportamentos de seus colaboradores. Se algo “dá errado”, por exemplo, o objetivo é aprender por meio da participação e da compreensão das atividades e responsabilidades.

A cultura justa engloba uma ampla gama de situações em que seus princípios podem ser considerados e aplicados para a melhoria de todos os processos organizacionais, segundo as pesquisadoras. Elas entendem que, para se chegar a um modelo de cultura justa, é necessária a participação dos envolvidos na organização. Uma das ações é a transformação da comunicação para evitar assimetrias de poder e, assim, reduzir também práticas retributivas, com objetivo de punição.

As práticas devem ser orientadas por processos democráticos e de responsabilização, ainda de acordo com a equipe do Serviço Social. Implica que haja, necessariamente, uma mudança de olhar e das perguntas que movem os processos.

Segurança organizacional

À medida em que a cultura de segurança das organizações incorpora esta racionalidade, o foco passa a ser nas necessidades e na obrigação em seguir uma abordagem colaborativa entre as pessoas direta e indiretamente afetadas por um incidente que causou ou possa causar dano. Para as pesquisadoras, esta é a base da mudança.  

A aposta em uma cultura justa restaurativa – que visa a reparação dos danos e responsabilização dos atos – oferece a possibilidade de ampliação da segurança nas organizações, fortalecendo a atuação dos trabalhadores. Eles podem participar ativamente do monitoramento do local de trabalho e estar envolvidos nos esforços para a melhoria da segurança organizacional.

Mobiliza ainda uma infraestrutura de aprendizagem contínua para prevenir a exclusão nas relações de trabalho, orientando-se por processos justos e inclusivos, intimamente associados à qualidade de interação e comunicação nas relações de trabalho. Assim, são cultivados espaços em que os trabalhadores possam ser ouvidos e tratados com respeito

O processo para consolidação da cultura justa ainda deve contar com aprendizagem coletiva e colaborativa, rompendo com os processos restritivos à culpabilização e à penalização. Da mesma forma, as assistentes sociais observam importantes a educação corporativa com o objetivo de desenvolver a liderança e a comunicação em nível interpessoal e intergrupal. Tudo isso privilegia a construção de competências comportamentais como escuta ativa, empatia, confiança e trabalho em equipe.