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Pesquisadores seguem trabalho de campo

Pesquisadores do HFactors estão desde a última sexta-feira embarcados em uma plataforma de petróleo a 240 km da costa brasileira. Priscila Wachs, pós-doutoranda, e Matheus Henrique Pulz , mestrando, visitaram as áreas e conversaram com os trabalhadores para entender sobre as rotinas e procedimentos a bordo.

Também estão sendo realizadas, pela pós-doutoranda Kamila Almeida , as filmagens para compor o documentário “Embarcados”, que retratará o cotidiano dos trabalhadores offshore.

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HFACTORS no Summit em Lisboa

Foto: Eduardo Giugliani

O coordenador do HFACTORS, Eduardo Giugliani, esteve no Web Summit, em Lisboa, representando o núcleo. Além de conhecer diversas iniciativas internacionais, ele tem feito conexões e estreitando relações com organizações que buscam trabalhar com Fatores Humanos e Resiliência.

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Representantes do consórcio Libra Petrobras visitam Tecnopuc e PUCRS

Representantes do consórcio Libra Petrobras conheceram a estrutura e alguns projetos do Tecnopuc ontem e hoje (21), além de visitar laboratórios da Escola Politécnica na PUCRS. Eles haviam participado do III Seminário HFACTORS: Práticas em Fatores Humanos e Resiliência voltadas à Segurança na Indústria de Óleo e Gás, realizado durante a semana, quando interagiram com pesquisadores e discutiram resultados de uma pesquisa conduzida nos últimos três anos.

O coordenador-geral do projeto Integração de Fatores Humanos e Resiliência para o Fortalecimento da Cultura de Segurança na Indústria de Óleo e Gás, professor Eduardo Giugliani, que também é diretor do Ideia Centro de Ciência & Tecnologia apresentou a história do Tecnopuc para os convidados, incluindo o gerente executivo de Libra, Ricardo Morais, e mostrou laboratórios, como o Crialab, para representar as parcerias que as iniciativas do parque têm com empresas e com o poder público.

Após conhecer os principais prédios, o grupo seguiu para a Escola Politécnica, em um passeio orientado pela decana Sandra Mara Oliveira Einloft. A instituição tem história de pesquisas com a Petrobras. Os convidados ainda passaram pela Faculdade de Ciências Aeronáuticas, onde o coordenador do curso, Lucas Fogaça, fez uma demonstração de voo no simulador.

O projeto em parceria com o consórcio Libra Petrobras foi iniciado formalmente em 2017, após anos de negociação. A atual fase, que começou em 2019, contou com mais de 40 profissionais de ciências humanas, ciências sociais aplicadas e ciências exatas, atuando interdisciplinarmente.

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Seminário consolida resultados de projeto sobre o setor de óleo e gás

Pesquisadores da PUCRS debatem segurança com representantes do consórcio Libra-Petrobras

Crédito: Matheus Gomes

Para sintetizar resultados de um projeto realizado na PUCRS nos últimos três anos, o “III Seminário HFACTORS: Práticas em Fatores Humanos e Resiliência voltadas à Segurança na Indústria de Óleo e Gás” reuniu os pesquisadores envolvidos e representantes da indústria do petróleo. Ontem e hoje (20), os participantes discutiram os dados e como eles podiam ser aplicados na prática cotidiana de trabalho.

O coordenador-geral do projeto Integração de Fatores Humanos e Resiliência para o Fortalecimento da Cultura de Segurança na Indústria de Óleo e Gás, professor Eduardo Giugliani, que também é diretor do Ideia Centro de Ciência & Tecnologia da PUCRS, resgatou a história da pesquisa, iniciada formalmente em 2017, após anos de negociação com o consórcio Libra-Petrobras. A atual fase, que começou em 2019, contou com mais de 40 profissionais de ciências humanas, ciências sociais aplicadas e ciências exatas, atuando interdisciplinarmente. “É possível trabalhar dessa forma, apesar de difícil. O trabalho que temos hoje não é só entre pesquisadores, mas entre as empresas envolvidas, consolidando a transdisciplinaridade”, observou na abertura do evento.

Nos dois dias de atividades do seminário, foram realizados oito painéis para debater os principais temas que apareceram na pesquisa, entre eles liderança, autocuidado no trabalho, cultura justa, análise de eventos de segurança e princípios em Fatores Humanos. Os assuntos emergiram das duas fases da pesquisa, a qual contou com amostra de mais de 400 pessoas, de diversas funções e níveis hierárquicos da indústria de óleo e gás.  Ao todo, foram aproximadamente 700 horas de entrevistas realizadas de modo individual ou em grupo.

Os métodos utilizados para coleta de material incluíram narrativas biográficas, entrevistas semiestruturadas, storytelling, grupo focal, dinâmicas de grupo em laboratórios, questionários, observações de campo, análise de documentos e bases de dados e revisões de literatura técnica e científica.

Todo esse trabalho, conforme o decano da Escola de Negócios e coordenador científico do projeto, Éder Henriqson, contribuiu com a formação de graduandos e pós-graduandos e trouxe conhecimentos que vão qualificar esse segmento tão importante para a economia do país. Sobre isso, ogerente Executivo de Libra, Ricardo Moraes, identificou a construção de um legado que continuará evoluindo para contribuir com a segurança a partir da abordagem de Fatores Humanos.

A herança dos resultados colabora para os indicadores de qualidade da instituição de ensino, reconhecida internacionalmente. “Esse projeto é muito importante para a PUCRS. A nossa excelência precisa transbordar e transformar internamente e externamente para a sociedade, impactando a sociedade. Tudo isso com o tempero da interdisciplinaridade, é melhor ainda”, destacou o pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação da PUCRS, Carlos Eduardo Lobo e Silva.

Ao longo do seminário, foram apresentados vídeos institucionais e um teaser de um documentário que mostrará a rotina dos trabalhadores da indústria de óleo e gás. As peças audiovisuais são produto da equipe de mídia que se formou para criar conteúdos com informações em linguagem de fácil acesso, com objetivo de contribuir para a propagação e divulgação da ciência com a sociedade.

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Cotidiano offshore é mostrado em documentário

Para mostrar o cotidiano de trabalhadores offshore da indústria de óleo e gás, a pesquisadora do HFACTORS Kamila Almeida fez entrevistas em uma sonda na costa brasileira esta semana. O material fará parte do documentário Embarcados, que tem direção do professor Hermílio Santos.

Durante três dias intensos, a pesquisadora registrou imagens e acompanhou atividades da plataforma, que se prepara para iniciar os processos de perfuração. “Conheci histórias de vida, observei como se dão as relações no ambiente confinado, os protocolos de segurança e testemunhei a complexidade que é este ambiente”, contou ela, informando que tudo auxiliará em seu projeto de pós-doutorado em Sociologia Visual.

Até o final de 2022, o documentário Embarcados deve ser finalizado. A obra de cerca de 50 minutos mostrará a rotina de quem atua nesse universo offshore.

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HFACTORS inicia mais uma pesquisa na área de óleo e gás

Os pesquisadores do HFACTORS, ampliando sua área de atuação em Fatores Humanos, estão desenvolvendo um projeto para o fortalecimento da cultura de segurança da Karoon Energy Brasil, uma empresa internacional de exploração e produção de petróleo e gás com ativos no Brasil e Austrália.   

Desde 2014, o HFACTORS estuda e desenvolve soluções em Fatores Humanos, principalmente com foco em segurança, em sistemas sociotécnicos complexos. A experiência em áreas como exploração de petróleo, aviação e saúde vem consolidando o conhecimento da equipe.

“A ideia é fazer um diagnóstico da empresa no contexto de fatores humanos. Em uma segunda etapa, haverá sensibilização sobre essa abordagem”, explica o coordenador do núcleo HFACTORS, Eduardo Giugliani.

Para a coleta de dados, serão realizadas entrevistas, oficinas colaborativas, observação e análise de operações em campo, com embarque de pesquisadores em plataformas de petróleo em alto mar, na costa brasileira.

Nesta pesquisa, que iniciou em abril e tem duração prevista de 15 meses, a equipe é formada por pelo menos 15 profissionais, com formação interdisciplinar, com foco em engenharia, resiliência e ciências sociais aplicadas. A liderança deste projeto cabe à Escola Politécnica e à Escola de Negócios da PUCRS, incluindo pesquisadores de outras áreas.

Ao final do trabalho, o grupo tem expectativa de reunir informações e conhecimentos sobre os atores e as dinâmicas organizacionais que possam contribuir com a melhoria do desempenho em segurança da Karoon Energy. Os avanços do projeto serão conquistados com base em conceitos de pesquisa-ação, quando os pesquisadores do HFACTORS trabalham em conjunto com os colaboradores da empresa, construindo soluções e proposições de forma compartilhada.

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Pós-graduação sobre Fatores Humanos inicia na PUCRS

PUCRS inicia na próxima segunda-feira (26) uma pós-graduação para aprofundar conhecimentos de cultura de segurança. O conteúdo, ministrado por especialistas nacionais e internacionais, é focado em conceitos de Fatores Humanos – uma abordagem que considera principalmente as condições que influenciam o comportamento no trabalho, o desempenho e a segurança – e resiliência organizacional. 

O curso, considerado pioneiro na área, terá duração de 15 meses para uma primeira turma formada por profissionais da Petrobras e da Transpetro. No ano que vem, já está prevista uma segunda edição.

Os professores da PUCRS Eder Henriqson e Eduardo Giugliani coordenam o projeto em parceria com o engenheiro de petróleo da Petrobras Jose Carlos Bruno, diretor da Seção Técnica de Fatores Humanos da SPE – Society of Petroleum Engineers. O curso é liderado pela Escola de Negócios junto com a Escola Politécnica da PUCRS.

Para mais informações, entre em contato pelo e-mail [email protected]

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Pesquisa investiga segurança, bem-estar e autocuidado entre profissionais da saúde

Crédito: Bruno Todeschini/ PUCRS

O núcleo de pesquisa HFACTORS iniciou um projeto com profissionais da área da saúde em Porto Alegre. O objetivo é identificar questões relacionadas a bem-estar, saúde mental e segurança a partir da percepção desses profissionais, que estão entre os que mais sofrem de esgotamento no ambiente de trabalho. 

Apesar de não haver perguntas relacionadas à pandemia de Covid-19, os resultados do estudo deverão ser impactados por esse contexto e mostrar, de alguma forma, como essa área foi afetada. A meta é que aproximadamente 500 pessoas do setor da saúde, que atuem em hospitais, respondam a questionário com uma série de variáveis, como liderança, carreira e autocuidado. A pesquisa inicia sendo aplicada com os funcionários do Ernesto Dornelles, em um segundo momento sendo aplicada no Hospital São Lucas da PUCRS e posteriormente ampliada para outras instituições hospitalares da Capital. 

“Essa pesquisa está sendo realizada justamente em um momento de pandemia que é um importante estressor. É um momento histórico que estamos vivendo, de imprevistos e de incertezas”, observa uma das pesquisadoras envolvidas Maria Isabel Barros Bellini, que é professora do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da PUCRS

Segundo a pós-doutoranda do HFACTORS Fernanda Xavier Arena, os profissionais da saúde já têm um índice elevado de esgotamento. “A pandemia aumentou ainda mais o sofrimento”, acrescenta. 

Nesse sentido, a pesquisa também observará a presença de práticas de autocuidado, as quais servem de estratégia para lidar com o estresse causado pelo trabalho. Uma revisão de pesquisas sobre o assunto mostrou que atividades de lazer, esporte, atenção plena e meditação, por exemplo, reduzem o risco de desenvolvimento da síndrome de Burnout, que o esgotamento decorrente de estresse crônico no local de trabalho, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS)

As pesquisadoras consideram que, durante a pandemia, alguns espaços que funcionavam como locais de interação, atividades e lazer foram fechados, o que contribuiu processos de sofrimento e isolamento. “Com o agravamento dos sintomas, vem a importância do autocuidado como uma das formas de enfrentamento”, ressalta Bellini. 

De forma geral, o estudo trará um panorama, a partir de múltiplas variáveis, sobre a relação dos trabalhadores com o seu trabalho. “Queremos entender um pouco mais a relação que os trabalhadores têm com seu trabalho e sobre o próprio contexto desse ambiente e desse trabalho realizado”, explica a doutoranda Daniela Boucinha, psicóloga que também faz parte da equipe. 

A pesquisadora informou que o objetivo é também investigar a influência que a liderança exerce sobre as questões relacionadas a bem-estar, saúde mental e segurança. “Queremos saber da relação entre líderes e liderados”, disse Boucinha. 

Entre os benefícios da pesquisa, Arena, que é assistente social e tem doutorado em Psicologia, observa que, a partir do conhecimento das percepções dos trabalhadores, é possível elaborar alternativas. Segundo ela, o conhecimento das condições de trabalho auxilia no aprimoramento das práticas de autocuidado, o que também impacta na melhoria das condições de trabalho na otimização do atendimento prestado. 

A pesquisa conta ainda com a professora de Psicologia da PUCRS Manoela Ziebell de Oliveira e com a pós-doutoranda Lidiany de Lima Cavalcante e tem característica interdisciplinar. O grupo de trabalho se ampara na experiência de projetos desenvolvidos desde 2014 com abordagem de Fatores Humanos e Engenharia de Resiliência no setor de óleo e gás. Por demanda externa, agora expande sua atuação para o segmento da saúde. 

Sobre o HFACTORS 

O Human Factors and Resilience Research (HFACTORS) é núcleo vinculado à Escola Politécnica da PUCRS, em parceria com a Escola de Negócios, formado por profissionais de diferentes formações, como Engenharia de Resiliência, Sociologia, Serviço Social, Psicologia, Engenharia, Mídia e Gestão do Conhecimento. A equipe estuda e desenvolvendo soluções, principalmente de segurança, em sistemas sociotécnicos complexos. O que vincula todos os pesquisadores do núcleo é a abordagem de Fatores Humanos a qual observa a interação do homem com o ambiente de trabalho, incluindo os fatores ambientais e organizacionais. A Coordenação Geral do HFACTORS está sob a responsabilidade do Prof. Dr. Eduardo Giugliani.

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Pesquisador do HFACTORS apresenta pesquisa sobre segurança operacional na Suécia

Mesmo com um elevado número de regras e procedimentos fiscalizados por agências reguladoras, as organizações com alto nível de complexidade não estão livres de sofrer catástrofes. O coordenador do curso de Ciências Aeronáuticas da PUCRS, Lucas Bertelli Fogaça, que é integrante do núcleo de pesquisa HFACTORS, identificou, em sua tese de doutorado apresentada em 2021, controvérsias nas relações entre trabalhadores e os artefatos do ambiente laboral. O estudo foi apresentado na segunda semana de junho na Universidade de Lund, na Suécia. 

“Da mesma forma que procedimentos são utilizados para estruturar o trabalho, a variabilidade inerente ao campo implica em adaptações constantes para que o trabalho normal possa ser realizado”, explica, lembrando que esse é um dos exemplos de dualidades observadas na indústria de óleo e gás, utilizada como campo para a pesquisa, que também trouxe exemplos de outros setores, como o aéreo. O trabalho desenvolvido por Fogaça faz parte do projeto Integração de Fatores Humanos e Resiliência para o Fortalecimento da Cultura de Segurança na Indústria de Óleo e Gás, conduzido pelo núcleo HFACTORS, que é vinculado à Escola Politécnica em parceria com a Escola de Negócios da PUCRS.  

Fogaça dá exemplos de acidentes ocorridos logo após comemoração de elevados níveis de conformidade relacionados à prevenção de riscos por auditorias externas, como o desastre em Macondo no Golfo do México. A explosão de uma sonda de perfuração ocorreu no dia seguinte à celebração de um relatório com excelentes resultados de segurança. Foram 11 mortes, além de derramamento de óleo, que representou um enorme desastre ambiental. “Os eventos da barragem de Mariana e da Air France 447 também ocorreram em cenários parecidos, mesmo com elevadíssimos níveis de compliance. Isso mostra, em retrospecto, que a segurança e conformidade não andam necessariamente de mãos dadas.” 

Utilizando uma abordagem sociológica, ele observou, em diálogos no campo, em circulares, manuais e procedimentos, como as dinâmicas operacionais e de gestão ocorrem. “A tese se propunha a fazer a captura de negociações e reconciliação de diferentes metas que ocorrem cotidianamente, iluminando como os procedimentos, a regulação e os treinamentos, por exemplo, não são neutros, mas determinam o modo de agir”, ressalta.  

Hiperburocratização das organizações 

Outro ponto discutido é a tendência de proteção legal das grandes empresas, que implica na criação de inúmeros documentos, centenas de páginas de prescrições e procedimentos para serem conhecidos e assinados pelos colaboradores. Assim, a organização procura se blindar de implicações legais.  

As empresas estão entrando em uma fase de hiperburocratização e autojustificação para não serem penalmente responsabilizadas. “Isso acaba, muitas vezes, interferindo com os objetivos de melhoria do sistema da gestão de segurança operacional, redirecionado para a busca de culpados”, reflete o professor e pesquisador. O acúmulo incremental de novas regras e legislação que precisam ser atendidas impacta diretamente no volume de trabalho, que acaba ficando desproporcional e afetando a atividade fim, alcançando diferentes elementos das estruturas organizacionais.  

“Em um exemplo que discutimos na apresentação na Suécia, observamos um acréscimo de quase cinco vezes no volume de material requerido para formar um instrutor de voo nos últimos 10 anos. A maior parte – mais de dois terços deste material – é voltado hoje para proteção legal e não para a segurança da operação aérea em si”, diz.  

Laboratório de aprendizado em Lund 

A apresentação de parte da tese de Fogaça ocorreu no laboratório de aprendizado em Fatores Humanos e Segurança de Sistema, na Universidade de Lund. Este foi o primeiro encontro presencial do grupo desde o início da pandemia de Covid-19. O decano da Escola de Negócios e coordenador Científico do HFACTORS, Éder Heriqson, é um dos professores do curso voltado a Fatores Humanos na instituição sueca. Ele também participou das atividades desenvolvidas em junho com o orientando Fogaça, quando foram discutidos temas como ética, aprendizagem organizacional, cultura justa e cultura de segurança.  

Pesquisadores de várias partes do mundo, representando diversos segmentos, discutiram as limitações e saídas para a segurança operacional. “Os outros participantes debateram situações semelhantes em diferentes indústrias como nuclear e saúde, dedicando suas pesquisas a melhorar estes sistemas e encontrar equilíbrio entre produção, proteção e conformidade em sistemas complexos e dinâmicos”, argumenta Fogaça.  

Para ele, é muito difícil trabalhar com modelos pré-estabelecidos, sem considerar as especificidades de cada ambiente e a participação de representantes do meio estudado.  “O oferecimento de modelos e frameworks prontos não dão conta da dinamicidade destes campos. Por este motivo, nossa abordagem envolve cocriação. Nos dedicamos a ampliar as percepções em campo para permitir que caminhos emerjam do campo”, declara. Neste contexto, segundo Fogaça, o pesquisador nunca superará os repertórios e a experiência dos trabalhadores em seus próprios ambientes laborais.   

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Narrativas biográficas ajudam a compreender fenômenos do trabalho

Crédito: Brett Jordan, Unsplash

Histórias de vida trazem não só informações individuais, mas também elementos sociais, culturais, além da contextualização do tempo histórico e econômico. Desde a formação do núcleo HFACTORS, o método que utiliza narrativas biográficas tem sido usado para entender fenômenos do trabalho a partir dos próprios trabalhadores. Os pesquisadores do grupo de Sociologia entrevistam pessoas inseridas no ambiente estudado e perguntam sobre suas trajetórias desde a infância, passando pela escolha profissional, inserção no mercado e construção de carreira.

Essa abordagem, segundo o coordenador da equipe de Sociologia, Hermílio Santos, auxilia no diagnóstico de campo, porque, quando um colaborador ingressa em uma organização, carrega com ele interpretações passadas e visões de mundo, que ajudam a informar a maneira como agirá. “A análise transborda o ambiente concreto, porque as vivências não se encerram em si. Elas têm um histórico”, explica. 

Na prática, a entrevista começa com uma pergunta aberta solicitando que a pessoa conte sobre sua biografia. Esse primeiro relato é feito de forma livre sem interrupções. Após o entrevistado sinalizar que finalizou, o entrevistador retoma cada um dos temas abordados, procurando obter narrativas de experiências vividas. “Narrativa é um tipo de texto que tem um percurso cronológico”, explica a historiadora e pesquisadora do núcleo Naida Menezes. É como se fosse uma cena de filme em que o ouvinte consegue imaginar o ambiente e o que aconteceu. Esse texto difere da avaliação e da argumentação. “O que queremos nessa forma de pesquisa são vivências concretas, não a opinião ou o julgamento dos entrevistados”, complementa Menezes, que é pós-doutoranda em Sociologia. 

Na fase de análise, os pesquisadores procuram diferenciar as informações sobre as vivências e as que são passadas como interesse de apresentação, muitas vezes influenciado pelo contexto da entrevista. “No ambiente de trabalho, é comum que o entrevistado procure atender às expectativas do empregador e direcione sua fala para a conformidade às regras da empresa”, destaca a jornalista e pesquisadora Karina Reif. Apesar ser difícil de evitar que isso aconteça, é possível minimizar fazendo entrevistas com sigilo e formulando questões que não orientem o discurso. “As perguntas muito fechadas ou aquelas em que o entrevistado só pode responder sim ou não restringem o que pode ser obtido no momento da entrevista.”

Fatores Humanos 

Esse método é um dos utilizados pelo grupo de Sociologia, combinado com a etnografia por meio da observação participante. Dentro do núcleo HFACTORS, outras ferramentas também auxiliam na compreensão dos temas investigados, como questionários, storytelling, grupos focais, entre outros. Todas essas técnicas têm vínculo com a abordagem de Fatores Humanos

“A área de Fatores Humanos tenta entender as diferentes práticas que fazem uma organização existir, que a constroem e que a colocam para frente”, declara a psicóloga e pós-doutoranda de Sociologia Priscila Susin.

É uma abordagem descritiva, segundo ela, que tenta olhar e dizer como um sistema é composto de diversas partes em interação. “Tenta mostrar como as diferentes partes desse sistema funcionam, mas mais do que isso, tenta entender como essas partes se comunicam, como elas coexistem e constroem juntas.” 

Dessa maneira, as narrativas ajudam a visualizar como as práticas dos indivíduos ocorrem no cotidiano e como eles interagem com outros indivíduos, com o trabalho e com a organização, além de outros aspectos. Isso tudo do ponto de vista dos próprios entrevistados. 

Efeito terapêutico

Como os trabalhadores são ouvidos de uma maneira mais livre e aberta, os pesquisadores observam um efeito para além da pesquisa. “Os trabalhadores sentem que estão sendo considerados e respeitados como participantes e como criadores”, salienta Menezes. 

Esse “efeito terapêutico” já foi explicitado em outros estudos e continua sendo verificado nos trabalhos realizados pelo HFACTORS. “Muitas vezes, as pessoas não têm um espaço para falar de algumas questões e se abrir. Com esse método, a gente está falando: ‘é tudo sobre você, não vamos julgar, não vamos interromper, nem impor o que é certo ou errado’”, explica Susin. 

Divulgação dos resultados 

A maneira de transmitir os resultados desse tipo de pesquisa pode ser por relatórios e apresentações, por exemplo. Contudo, o HFACTORS têm complementado esses formatos mais tradicionais com materiais audiovisuais. Segundo a jornalista e pós-doutoranda em Ciências Sociais Kamila Almeida, esse recurso possibilita que as temáticas sejam explicitadas de forma atrativa e educativa. Os vídeos são usados na fase de intervenção das pesquisas junto aos trabalhadores. 

Almeida e Santos também estão trabalhando em um documentário que funcionará como um retrato concreto de alguns aspectos do ambiente laboral do setor de óleo e gás, que é foco de uma das pesquisas desenvolvidas pelo núcleo.